Lincoln



Mensalão do Bem
Abraham Lincoln entrou para a história ao conseguir implementar em seu país a abolição da escravatura e, de quebra, garantir a partir dessa medida o fim da guerra da secessão que assolava os Estados Unidos. Por isso, se Steven Spielberg assume a direção de um filme que retrata esse período da vida, sobretudo política, do presidente norte-americano, podemos todos apostar que uma patriotada virá pela frente, certo?
Em termos, isso porque a expectativa se confirma sim, embora nesse caso seja notável a forma contida com que o cineasta propaga seu ufanismo, bem como louvável o fato de o roteiro não esconder as estratégias maquiavélicas do político para alcançar seus objetivos – afinal, a máxima ‘os fins justificam os meios’ caracterizava um modus operandi calcado na compra de votos a princípio oposicionistas.
Por certo, para a população americana, no que sei inclui o próprio Spielberg, o caráter igualitário da iniciativa que tornava brancos e negros iguais perante a lei suplanta qualquer discussão acerca do desvio ético manifestado na forma como Lincoln venceu aqueles que se opunham a seus planos. Ocorre que nós brasileiros bem sabemos que manobras antiéticas podem até servir a um propósito justo, mas também, e principalmente, podem ser utilizadas a serviço de interesses escusos, como provam, por exemplo, as milícias que se num primeiro momento apresentam um caráter heroico, adiante assumem o papel daqueles que a margem da lei foram eliminados.
Acima de tudo a compra de votos nos remete ao escândalo do mensalão que talvez constitua o maior caso de corrupção já visto na história política brasileira. Não a toa, portanto, para nós tupiniquins aquilo que fora retratado em Lincoln possui um sabor muito particular que, infelizmente, não é plenamente explorado, tendo em vista que a obra passa ao largo de qualquer discussão sobre a forma amoral com que muitos dos opositores do presidente foram dobrados, aspecto esse que, convenhamos, poderia representar o grande diferencial desta cinebiografia, pois se assim tivesse ousado, Spielberg provavelmente obteria um resultado superior, fundado em uma narrativa dinâmica e não na burocrática e arrastada toada que uma hora ou outra cansa o espectador. Não fosse essa lacuna, o longa-metragem poderia ser lembrado não só pela primorosa fotografia de Janusz Kaminski e pela impressionante atuação de Daniel Day-Lewis, mas, em se tratando de uma realização de Steven Spielberg por que, então, o estranhamento?

FICHA TÉCNICA

Direção: Steven Spielberg

Produção: Steven Spielberg, Kathleen Kennedy

Roteiro: Tony Kushner, John Logan, Paul Webb, baseado na obra de Doris Kearns Goodwin

Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Tommy Lee Jones, Michael Stuhlbarg, Jackie Earle Haley, Daniel Day-Lewis, Gloria Reuben, Adam Driver, Jared Harris, Sally Field, James Spader, Lee Pace, Gulliver McGrath, Walton Goggins, John Hawkes, David Strathairn, David Oyelowo, Hal Holbrook, Tim Blake Nelson, Bruce McGill, Joseph Cross, Julie White, Elizabeth Marvel, S. Epatha Merkerson, Gregory Itzin, David Costabile, David Warshofsky, Wayne Duvall, Jeremy Strong, Dakin Matthews, Colman Domingo, Elijah Chester, Robert Peters, Grainger Hines, Boris McGiver, Christopher Boyer, Martin Dew, Byron Jennings, Joe Inscoe, Richard Topol, Robert Shepherd, Michael Stanton Kennedy, Robert Ayers, Leslie Rogers, T. Alloy Langefeld, Longa Bennett, John Hutton, Todd Fletcher, J. Emerson McGowan, Matthew Pabo, Kevin Inouye, Raymond H.Johnson, Walt Smith, Ryland Breeding, Leon Addison Brown, Keith Tyree, Mike Shiflett, Israel David Groveman, Skylor Williams, Robert Ruffin, Joseph Carlson, Josh Herzog, Drew Sease, Thomas K. Belgrey, William White, Chad Roberts, CarlosThompson, Randy Allen, Kellita A. Wooten, Charley Morgan, Clarence Key, Rory Sullivan

Fotografia: Janusz Kaminski                           Trilha Sonora: John Williams

Estreia no Brasil: 25.01.13                               Estreia Mundial: 09.11.2012

Duração: 153 min.

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