Ferrugem e Osso
O Amor nos Tempos do
Estranho
Ferrugem e Osso (França/Bélgica, 2012) é resultado do trabalho de
adaptação de contos do autor Craig Davidson, assunto esse sobre o qual o
cineasta Jacques Audiard comenta:
“No original
há apenas situações, atmosferas, não há história de amor, o acidente é com um
rapaz, [a adaptação] não é ao pé da letra, embora recrie a atmosfera e seja
fiel a muitos dos acontecimentos. Nunca imaginaria uma realidade que envolvesse
um parque aquático, um boxeador e uma mulher sem pernas”¹.
Essa disparidade de elementos
narrativos - aos quais se somam, ainda, crise econômica, disfunção familiar e instalação
de câmeras clandestinas - é o que mais chama a atenção no longa-metragem de
Audiard, isso porque a produção abraça toda essa gama de temas sem precisar
recorrer ao formato do filme coral e seus inúmeros personagens. Ao manter o
foco, de maneira inversa, sobre o casal de protagonistas e alguns poucos
coadjuvantes, o roteiro de Audiard apresenta uma incrível capacidade de coesão que
torna plenamente verossímil o drama narrado - por mais estranho que ele pareça...
Aliás, a estranheza é uma bem-vinda característica de Ferrugem e Osso na medida em que reflete o quão esquisitas ou diferentes também se tornaram as relações humanas. E é aí que reside a atualidade da obra, visto que, por exemplo, a ambiguidade de seu personagem principal, qual seja um homem bruto, mas também solidário, negligente, porém, zeloso, se confunde, com a dubiedade dos relacionamentos atuais.
Aliás, a estranheza é uma bem-vinda característica de Ferrugem e Osso na medida em que reflete o quão esquisitas ou diferentes também se tornaram as relações humanas. E é aí que reside a atualidade da obra, visto que, por exemplo, a ambiguidade de seu personagem principal, qual seja um homem bruto, mas também solidário, negligente, porém, zeloso, se confunde, com a dubiedade dos relacionamentos atuais.
É claro que uma proposta complexa
como essa não seria vitoriosa sem a presença de atores capazes de alcançar tais
notas. Para tanto, Marion Cotillard brilha no papel mais desafiador de sua
carreira desde a encarnação de Edith Piaf e, do outro lado, Mathias Schoenaerts
impressiona pelo troglodita e pelo poço de gentileza que é em cena. Na regência
do espetáculo Jacques Audiard, por seu turno, é um prudente observador que
evita psicologismos para não tomar partido nem tecer julgamentos. A ele não
interessa saber se entre o casal há amor ou sexo, compromisso ou diversão. Todos
são bons e também maus; todos são vítimas e principalmente cúmplices, assim
como tudo o que é estranho também, é belo². No universo de Ferrugem e Osso aquilo que é esteticamente agradável ganha
contornos cruéis, enquanto as coisas mais comumente reprováveis ganham
surpreendentes requintes de beleza – que o diga Katy Perry e seu hit Firework³.
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1.FONTE:
Revista Preview. Ano 3. ed. 40. São Paulo: Sampa, Janeiro de 2013. p. 21.
2.Vide as cenas
de sexo ímpares cuja atmosfera lírica Beto Brant tentou anteriormente sem êxito
alcançar em Crime Delicado.
3.“’Jamais teria escolhido essa canção,mas era a que
tocavam no show’ contou Jacques Audiard, reclamando do preço pago pelos
direitos autorais” (Op. Cit. p. 21).
Título
Original: De Rouille Et D’os
Direção : Jacques
Audiard
Roteiro: Jacques Audiard, Thomas Bidegain, baseado
em livro de Craig Davidson
Elenco: Marion Cotillard, Mathias Schoenaerts, Céline
Sallete, Yannick Choirat, Jean-Michel
Correia, Mourad Frarema, Bouli Lanners, Corinne Masiero, Armand Verdure
Música: Alexandre Desplat Edição: Juliette
Welfling
Estreia no Brasil: 03.05.13 Estreia Mundial: 17.05.12
Duração: 122 min.
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