Gravidade



Dupla Possibilidade

Embora as críticas estejam sendo bastante positivas e empolgadas com relação a Gravidade (EUA, 2013), há, vale dizer, duas possibilidades de analisar o filme, senão vejamos:

Vi e Gostei: Alfonso Cuarón realiza, seis anos após Filhos da Esperança, mais um excelente exercício de direção, operando técnicas inovadoras¹ e efeitos visuais fantásticos que, ao invés de se sobreporem a história, trabalham em prol da construção do suspense exigido pela trama. Munido de apenas dois atores em cena, Cuarón edifica um espetáculo arrebatador para os olhos e nervos amparado por uma vigorosa banda sonora que intercala com maestria o silêncio a uma trilha musical angustiante porque aflitiva. Valendo-se, ainda, de um meticuloso processo de transição das filmagens para o 3D, o cineasta demonstra toda a força narrativa desse instrumento recriando, desse modo, as mais acachapantes imagens do espaço vistas desde ... 2001! Entretenimento de primeira linha, Gravidade não perde tempo com flashbacks e demais informações desnecessárias, concentrando-se, portanto, tão somente em levar sua protagonista a um exaustivo percurso de luta pela sobrevivência e o espectador a um integral envolvimento para com o drama e as emoções vindas da tela, o que, em última instância, demonstra que, felizmente, ainda há vida inteligente no universo do cinemão hollywoodiano.


Vi e Me Frustrei: Não obstante Alfonso Cuarón já tenha em entrevistas de divulgação declarado a existência de simbolismos no enredo escrito por ele e seu filho, resta pouco significativo – a não ser, talvez, para aqueles dotados de uma sensibilidade exacerbada – que, por exemplo, os destroços que orbitam em torno da espaçonave onde se encontram os personagens de Gravidade representem os obstáculos e traumas que, não raro, nos impedem de caminhar para a frente e de encarar o futuro. Ao contrário do que realizara na obra-prima Filhos da Esperança, Cuarón dirige sua atenção para o quesito diversão, deixando, assim, num plano abaixo eventuais questões filosóficas e/ou metafísicas - que, frise-se, poderiam ser exploradas para além da belíssima sequência em que Sandra Bullock gravita em posição fetal. Gravidade, dessa maneira, é programa feito para, acima de tudo, entreter. A intenção, neste sentido, é menos fazer o público refletir e mais roer as unhas ante a tensão². Tal opção não necessariamente representa um defeito, mas, por certo, haverá de desagradar a parcela que ficara mal acostumada com toda a densidade presente na distopia cerebral que fora o outrora citado Filhos da Esperança. Não se trata de dizer que Cuarón tenha sido ineficiente em Gravidade, já que o longa-metragem apresenta uma técnica irreparável do artista; contudo, inevitavelmente fica no ar a indagação: o quão existencialista se transformaria o mesmo roteiro nas mãos de um Terrence Malick e de uma Noomi Rapace?
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1.  “Para filmar os 90 minutos da produção, foram usadas técnicas variadas e criadas novas tecnologias. [...] Algumas vezes [Sandra Bullock] era pendurada por 12 cabos. Em outras ocasiões, seu corpo era manipulado pelos mesmos especialistas em marionetes que fizeram a peça Cavalo de Guerra. Em muitos outros momentos, ficava sozinha dentro de um cubo iluminado por LEDs e com câmeras operadas por robôs, com o humano mais próximo a 15 metros de distância. [...] Cada passo foi pré-programado num computador, e o timig tinha de ser exato” (Revista Preview. Ano 3. ed. 48. São Paulo: Sampa, Setembro de 2013. p. 20-1).
2. Aspecto esse que talvez pudesse ser até um pouco burilado eis que os infindáveis reveses enfrentados pela personagem principal vão, já próximo ao fim, adquirindo uma indevida conotação cômica.

Ficha Técnica

Título Original: Gravity

Direção: Alfonso Cuarón

Roteiro: Alfonso Cuarón, Jonás Cuarón

Elenco: Sandra Bullock, George Clooney, Ed Harris (voz)

Música: Steven Price

Direção de Arte: Andy Nicholson

Figurino: Jany Temime

Edição: Mark Sanger, Alfonso Cuáron

Estreia no Brasil: 11.10.2013                   Estreia Mundial: 03.10.2013
Duração: 90 min.

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