Virada no Jogo / Recontagem



HBO e seu Poder de Fogo

O diretor Jay Roach e o roteirista Danny Strong se tornaram referências enquanto narradores dos vexames políticos vistos nas últimas eleições presidenciais norte-americanas. Em Recontagem (EUA, 2008) apresentaram uma investigação precisa acerca da vitória no tapetão de Bush sobre Al Gore, ao passo que no mais recente Virada no Jogo (EUA, 2011) buscaram explicar o que levou a equipe de John McCain, opoente de Barack Obama, a optar por Sarah Palin – governadora do Alasca que imaginava ser de Saddam Hussein a responsabilidade pelos eventos de 11 de Setembro – para ocupar a vaga de candidata republicana a vice-presidência.
Recontagem acaba, com justiça, passando a impressão de ser um filme mais completo e complexo porque sua história é mais repleta de meandros e conchavos do que a atrapalhada saga de McCain e Palin juntos rumos as urnas; porém, no caso de Virada no Jogo chama a atenção de modo deveras positivo como a estupidez de Palin é abordada sem qualquer sensacionalismo. Evitando ao máximo os julgamentos vazios, as produções expõem, respectivamente, as maracutaias e equívocos republicanos sem vangloriar seus rivais democratas. A preocupação, neste sentido, reside justamente em não partidarizar as abordagens e torná-las envolventes para o consumo doméstico de todas as classes, tarefas essas cumpridas com êxito em função de roteiros enxutos que traduzem para uma linguagem simples, mas não simplória, assuntos que corriam o risco de serem compreendidos por uma fatia menor de público.
Colaboram para tanto nomes de peso como Kevin Spacey em Recontagem e Tom Hanks (na produção), Julianne Moore e Woody Harrelson (no elenco) em Virada no Jogo. Tais estrelas agregam qualidade e credibilidade a projetos não a toa laureados com prêmios como o Emmy e o Globo de Ouro, estatueta última essa que Moore também levou para casa graças a uma interpretação de Palin que jamais resvala na caricatura nem comete o erro de enveredar pela comicidade. A atriz humaniza sua personagem – uma figura tão inacreditavelmente talentosa para a encenação e ignorante para assuntos basilares da História e da Geopolítica – ao mostrá-la ora como um colosso ora como uma mulher dilacerada, fragilizada pela solidão em meio a tantos e, principalmente, por ter virado repentinamente motivo de chacota internacional.
Fascinantes, os dramas atestam o poder de fogo da HBO não só para as séries como também para os telefilmes. Quem dera a TV brasileira se inspirasse com mais frequência em exemplos como esses.

Ficha Técnica – VIRADA NO JOGO

Título Original: Game Change

Direção: Jay Roach

Roteiro: Danny Strong

Produção: Amy Sayres

Produção Executiva: Gary Goetzman, Jay Roach, Tom Hanks

Elenco Julianne Moore, Ed Harris, Sarah Paulson, Woody Harrelson, Peter MacNicol, Jamey Sheridan, Ron Livingston

Fotografia: Jim Denault

Edição: Lucia Zucchetti

Estreia: 10.03.2012                             

Duração: 117 min.



Ficha Técnica – RECONTAGEM

Título Original: Recount

Direção: Jay Roach

Produção: Michael Hausman

Roteiro: Danny Strong

Elenco: Kevin Spacey, Ed Begley Jr., Laura Dern, Denis Leary, Tom Wilkinson, John Hurt, Bob Balaban

Fotografia: Jim Denault

Trilha Sonora: Dave Grusin

Estreia no Brasil: 25.05.2008                            

Duração: 116 min.

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