A Religiosa
Devoção
Comprometedora
É impossível tratar de A Religiosa (França/Alemanha/Bélgica, 2013) sem levar
em consideração a versão anteriormente filmada por Jacques Rivette em 1966,
afinal, o que este último tinha de cruel e pessimista¹, a atual adaptação dirigida
por Guillaume Nicloux possui de contida e até, pasmem, de esperançosa.
Nicloux já declarou que por pouco não se tornou padre quando jovem²,
daí ser possível inferir que de sua parte existe uma relação de devoção perante
a Igreja católica, o que talvez explique porque em momento algum seu filme faz
o espectador sentir, provar a dor de Suzanne Simonin, uma jovem enclausurada, contra sua
vontade, em conventos onde fica exposta a toda sorte de humilhações e torturas.
Neste sentido, a forma incisiva com que Rivette mostrara os rituais sádicos de
freiras ante a ovelha negra do grupo perde espaço na versão de 2013 para um
tipo de assédio visualmente mais brando, qual seja o de ordem sexual, eis que Nicloux
prefere se concentrar nas investidas que a personagem principal recebe de uma
madre superiora lésbica – Isabelle Huppert em momento um tanto constrangedor. Não
que o assunto merecesse ser ignorado, porém, a insistência demonstrada para com
ele denota tanto um viés fetichista quanto uma tentativa de minimização do
calvário enfrentado pela protagonista para um nível próximo ao suportável.
No papel principal Pauline Étienne até tenta alcançar o tom de sofrimento mostrado por Anna Karina na obra
de Rivette mas acaba prejudicada pelas opções de seu diretor, o que inclui equivocados
cortes para imagens que, mesmo clamando por serem escancaradas, ficam apenas subentendidas. Não fosse o bastante, a conclusão diversa ao trabalho de Rivette e ao
texto original do iluminista Denis Diderot enfraquece a mensagem anticlerical a
qual o filme se propõe propagar, visto que para Nicloux a fé é algo superior a
obstáculos da vida, motivo pelo qual quem não a perde tem garantido para si um generoso
final feliz. Trata-se, desse modo, de um encerramento decepcionante se lembrado
for que no trabalho de Diderot publicado em 1796 na produção liderada por
Rivette a religiosa em questão se tornava extremamente brutalizada por tudo
aquilo que a humanidade lhe oferecera, deixando, assim, sua crença de possuir significado.
Realístico, portanto, ao invés de iludido como o término inventado por Guillaume
Nicloux.
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1. Leia
mais sobre a versão dirigida por Jacques Rivette em http://setimacritica.blogspot.com.br/2010/10/viridiana-religiosa.html.
2. FONTE: http://www.estadao.com.br/noticias/arteelazer,guillaume-nicloux-fala-da-nova-versao-de-a-religiosa,1071694,0.htm.
Titulo Original: La religieuse
Direção:
Guillaume Nicloux
Roteiro: Guillaume Nicloux e Jérôme Beaujour
Produção:
M. Reza Bahar, Jacques-Henri Bronckart, Olivier Bronckart, Sylvie Pialat, Benoît
Quainon, Nicole Ringhut
Elenco: Pauline
Étienne, Isabelle Huppert, Louise Bourgoin, Francoise Lebrun, Martina
Gedeck, Agathe Bonitzer, Alice de Lencquesaing, Marc Barbé.
Fotografia:
Yves Cape
Estreia no Brasil: 30.08.13
Duração: 114
min.
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