Tatuagem / Dzi Croquettes
Quando
a Ficção Não Acompanha a Realidade
Embora inspirado
no grupo de teatro Vivencial que, na segunda metade da década de 1970, “atraía
intelectuais e artistas para a sua plateia em um cabaré de Olinda, Pernambuco”¹
Tatuagem (Brasil, 2013) é, convenhamos, uma versão
ficcional do documentário Dzi Croquettes (Brasil, 2010) cuja estrutura,
por seu turno, é basicamente dividida em três pisos, quais sejam a formação e
difusão do grupo teatral, seu deslocamento geográfico em meio a ditadura dos
anos de chumbo e o fim seja da trupe seja da maioria dos indivíduos que a
compunham. Dentro deste contexto, Tatuagem transita entre as duas
primeiras partes do documentário, concentrando-se, portanto, no aspecto
dramatúrgico da atividade dos personagens bem como em suas relações afetivas.
Com efeito, assim como o protagonista Clécio
(Irandhir Santos) se esforça para não estabelecer o conflito perante o amado e
seus respectivos atos de infidelidade, o longa-metragem também evita explorar a
fundo questões espinhosas como a realidade ditatorial e opressora do período, o
que deixa uma sensação de incompletude a um trabalho que poderia ser mais
abrangente em suas discussões.
Na verdade em certos momentos Tatuagem até ameaça ser apoteótico no que atine o
choque entre o comportamento de uma minoria e os padrões impostos por um
regime, porém, infelizmente, as soluções nesse sentido apresentadas pela
narrativa são sempre anticlimáticas e, por conseguinte, frustrantes. Assim,
o foco da estreia de Hilton Lacerda enquanto cineasta se restringe a:
- reproduzir shows
andróginos e permeados de corpos (semi)nus, tal qual faziam os dzi croquettes,
missão essa, vale dizer, cumprida com
bastante esmero graças a ótima direção de arte e a Irandhir Santos em
desempenho brilhante, como de costume;
- abordar uma história de
amor entre dois homens – enredo esse que, por si só, nada possui de inovador.
Ao ser cauteloso ante o contexto histórico brasileiro
daqueles anos Tatuagem desperdiça o
fator político que seria seu grande trunfo, ao contrário de Dzi Croquettes que logra o êxito de ocupar um lugar de
destaque na memória justamente por demonstrar o que significava ousar
enquanto artista em tempos de censura. A ficção, desta vez, não acompanhou a
realidade a contento.
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1. FÉLIX, Renato in PREVIEW. Ed. 50. São Paulo: Sampa,
Novembro de 2013. p. 48.
Ficha
Técnica – Tatuagem
Direção
e Roteiro: Hilton
Lacerda
Produção: João Vieira Jr., Chico Ribeiro e Ofir Figueiredo
Elenco: Irandhir Santos,
Jesuíta Barbosa, Rodrigo Garcia, Ariclenes Barroso, Sylvia Prado, Nash Laila,
Sílvio Restiffe, Arthur Canavarro, Clébia Souza, Erivaldo Oliveira, Mariah
Texeira, Diego Salvador, Everton
Gomes,Rafael Guedes,Jennyfer Caldas,Iara Campos
Fotografia:
Ivo Lopes Araújo Música: DJ Dolores
Montagem: Mair Tavares
Direção de Arte: Renata Pinheiro
Figurino: Chris Garrido Maquiagem: Donna Meirelles
Estreia: 15.11.2013
Duração: 105 min.
Ficha
Técnica – Dzi Croquettes
Direção:
Tatiana
Issa, Raphael Alvarez
Estreia: 16.07.2010
Duração: 110 min.
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