O Lobo de Wall Street



A Jovialidade de Scorsese

Histórias de ascensão e queda são comuns na filmografia de Martin Scorsese, por isso, chama atenção a forma inteligente porque diferenciada, farsesca como o mestre conduz a narrativa de O Lobo de Wall Street (EUA, 2013). Fugindo de qualquer traço de repetição ou de mesmice, o diretor entrega A Comédia que faltava em sua obra – sim, o monótono O Rei da Comédia (EUA/1981) não é representativo dentro deste contexto – além de revelar uma jovialidade que muitos artistas já passados dos 60, 70 anos de idade não dispõem.
Ágil, irônico e muitíssimo engraçado o longa-metragem envereda por assuntos duros como dependência química e a selva de pedras que é o mercado da bolsa de valores sem perder o bom humor, o que pode até significar uma ótica equivocada para alguns mas que, em contrapartida, enche os olhos de quem compreende que o produto artístico é uma representação e não obrigatoriamente uma cópia da realidade.
                    Além de impecável em quesitos técnicos como fotografia, direção de arte e edição, o filme ainda apresenta um elenco que dá o sangue para melhor aproveitar a oportunidade de trabalhar sob a batuta de Scorsese. Assim, em papeis menores Mattew McConaughey – superando-se a cada dia – e Jonah Hill impressionam e arrancam risadas sem esforço, enquanto Leonardo DiCaprio apresenta a superlativa atuação de sua carreira, portando-se como um colosso ora furioso ora pacato ora alucinado².
Com efeito, mesmo que próximo ao término O Lobo de Wall Street altere sua toada frenética por um tom mais sisudo nada, entretanto, macula a produção com a pecha da caretice, até porque não há qualquer intenção em adequar a realização à faixas etárias mais jovens. Explique-se: Scorsese não teme em restringir seu público e os resultados da bilheteria e abarrota o filme com cenas de sexo, nu frontal e consumo de drogas, além de não se incomodar em ultrapassar, bastante, a duração padrão, em termos de comédia, das duas horas, razão pela qual quando diminui a velocidade da narrativa já perto da sua conclusão o cineasta visa tão somente manter a misé-èn-scene coerente ao estado de espírito do protagonista e não tornar ou manter o produto agradável ao público.
Desta feita, O Lobo de Wall Street é mais um excelente título de um diretor dos mais apaixonados pelo ofício³ que há anos mantém um altíssimo nível de qualidade em sua trajetória cinematográfica. Aliás, alguém lembra o último filme de Scorsese que não fora, no mínimo, ótimo? O Rei da Comédia (EUA/1983)? Gangues de Nova York (EUA/2002)? O Aviador (EUA/2004)? São pouquíssimas as opções.
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1.     Vide os casos de Touro Indomável, Os Bons Companheiros e, em menor escala, de A Invenção de Hugo Cabret.
2.     Neste sentido, contando apenas com poucos metros de chão e alguns degraus DiCaprio presenteia o cinema com a, sem exagero, antológica sequência em que drogado rasteja até seu automóvel.
3.     Em O Lobo de Wall Street Scorcese novamente confessa sua cinefilia tal qual no anterior A Invenção de Hugo Cabret e, desta vez, o faz seja com citações sutis a obras como Freaks e Rocco e seus Irmãos seja com a utilização de outros cineastas no elenco quais sejam Rob Reiner, Spike Jonze e Jon Favreau.

Ficha Técnica


Título Original: The Wolf of Wall Street

Direção: Martin Scorsese

Produção: Martin Scorsese, Leonardo DiCaprio, Riza Aziz, Emma Koskoff, Joey McFarland

Roteiro: Terence Winter (Baseado em livro de Jordan Belfort)

Elenco: Leonardo DiCaprio, Jonah Hill, Margot Robbie, Mattew McConaughey, Rob Reiner, Jon Favreau, Spike Jonze, Jean Dujardin

Edição: Thelma Schoonmaker                         Fotografia: Rodrigo Prieto

Estreia: 25.12.2013                                          Estreia no Brasil: 24.01.14
Duração: 179 min.

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