Sexo, Amor e Terapia / O que as Mulheres Querem
Autossabotagem
Num tempo em que a bandeira contra a misoginia e,
felizmente, tremulada com vigor, resta até arriscado criticar títulos como Sexo, Amor e Terapia (França/Bélgica,
2014) e O que as Mulheres Querem (França,
2014) sob pena de ser taxado como preconceituoso e machista. Isto posto,
encaremos o perigo.
Surpreendentemente, no sentido negativo, dirigido por
mulheres, as obras em comento possuem o nítido afã de igualar mulheres com
homens seja no comportamento, nos anseios e receios. Lamentavelmente, porém, o
caminho tomado para tanto é o da vulgaridade e da futilidade, senão vejamos:
-
Em Sexo, Amor e Terapia tem-se o
clássico formato da comédia romântica hollywoodiana com destaque para um casal
antagônico que natural e previsivelmente acaba se apaixonando; no caso em tela
trata-se da junção de uma espécie de ninfomaníaca com um abstêmio sexual, o que
abre as portas para um show de vulgaridades proporcionado por Sophie Marceau e
sua Judith que, por seu turno, não recebem qualquer cuidado por parte da
direção e do roteiro no que se refere a um tratamento minimamente respeitoso
quanto a seu vício – algo que, por exemplo, fora providenciado em produções
como Céu Azul (EUA, 1994) e Ninfomaníaca (Dinamarca, 2013) e que
impediu que as respectivas atuações de Jessica Lange e Charlotte Gainsbourg tornassem
vulgares os seres por elas interpretados. No longa-metragem francês dirigido
por Tonie
Marshall
o homem é na medida do possível o ser controlado, racional vitimado por uma viciada
em sexo que põe a perder todo o seu tratamento de abstinência. Não bastasse
essa constrangedora definição de perfis, o filme ainda deixa no ar a impressão
de que a mulher consegue sucesso em suas metas graças não a sua competência e sim aos
favores sexuais prestados, o que afunda ainda mais as pretensões feministas de
uma comédia cujo pouco riso provocado advém de uma sensação de vergonha alheia.
-Já
em O que as Mulheres Querem o que se
vê é a banalização dos anseios femininos. As mulheres jamais se bastam, sendo,
sem exceção, influenciadas quase sempre negativamente pela ausência ou presença
masculina. Sem um macho alfa ao seu lado – que pode ser personificado até por
uma lésbica – as figuras femininas restam perdidas a procura de um elemento que
as domine, sobretudo, pelo sexo, daí não raro serem caracterizadas como umas
tresloucadas descontroladas. Neste passo, o talento individual é relegado a um
plano subalterno pois o que realmente importa para aquelas é a companhia
garantidora da felicidade e da satisfação sexual. Desta feita, o desastre é
ainda maior do que o visto em Sexo, amor
e Terapia afinal a diretora e atriz Audrey Dana não limita seu enredo
a um número reduzido de personagens, criando, em contrapartida, um filme coral
composto pelas histórias de onze mulheres grosseiramente relacionadas. Assim,
sobram pontas soltas, arcos dramáticos mal definidos e personagens
insuficientemente exploradas. Some-se a isso um roteiro incapaz de apresentar
uma piada digna de gargalhada e que não raro apela para a escatologia e o
resultado é um dos filmes mais pavorosos da recente produção cinematográfica
francesa.
Fossem homens os diretores...
FICHA
TÉCNICA - Sexo, Amor e Terapia
Título Original: Tu veux... ou tu veux pas?
Direção e Roteiro: Tonie Marshall
Elenco: André Wilms, Camille Panonacle, Claude Perron, Fanny Sidney, François
Morel, Jean-Pierre Marielle, Marie Rivière, Pascal Demolon, Patrick Braoudé,
Patrick Bruel, Philippe Harel, Philippe Lellouche, Scali Delpeyrat, Sophie
Marceau, Sylvie Vartan
Produção: Bruno Pésery, Diana Elbaum,
Tonie Marshall
Estreia: 16/07/2015
(Brasil)
Duração: 88 min.
FICHA TÉCNICA - O que as Mulheres Querem
Título Original: Sous les Jupes des Filles
Direção: Audrey Dana
Roteiro: Audrey Dana, Murielle Magellan,
Raphaëlle Desplechin
Elenco: Alex Lutz, Alice Belaïdi, Alice
Taglioni, Audrey Dana, Audrey Fleurot, Géraldine Nakache, Guillaume Gouix,
Isabelle Adjani, Julie Ferrier, Laetitia Casta, Marc Lavoine, Marina Hands,
Pascal Elbé, Sylvie Testud, Vanessa Paradis
Produção: Marc Missonnier, Olivier Delbosc
Fotografia: Giovanni Fiore Coltellacci
Montagem: Ismael Gomez III, Julien Leloup
Estreia: 18/06/2015 (Brasil)
Duração: 116 min.
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