Hipócrates
De
Médico e Cineasta Thomas Lilti Tem um Bocado
Hipócrates (França, 2014) condensa em menos de duas horas, sem
resultar reducionista, muitos dos dramas médicos vistos em seriados como House e ER – Plantão Médico. Dentro deste contexto, o filme não teme as
referências – e até as cita – eis que tem a seu favor um elemento diferencial
que o coloca em um patamar mais elevado: o conhecimento de causa do diretor e
roteirista Thomas Lilti¹ que curiosamente exerce de forma paralela ao trabalho
cinematográfico a profissão de médico (clínico-geral), daí seu texto soar tão
autêntico e se permitir abordar assuntos diversos sem resvalar na irrelevância
ou na predominância de uma pauta sobre a outra.
Assim, Lilti – com a colaboração
dos co-roteiristas Baya Kasmi, Pierre Chosson, Julien Lilti – discute a falência do
sistema de saúde francês tocando em feridas que muito lembram a realidade
brasileira, quais sejam a falta de leitos, o sucateamento de hospitais e a
exploração injusta da mão de obra estrangeira. Não fosse o bastante, o cineasta
ainda encontra espaço para tratar de temas como o corporativismo médico e o
acobertamento dos erros de seus profissionais, a falta de vocação de vários
demonstrada ante as dificuldades do ofício e a questão da eutanásia no que
tange a necessidade e dificuldade de sua aplicação.
Cada um desse subtemas poderia
certamente sustentar episódios completos de séries como as supracitadas ou até
mesmo filmes de longa-metragem. Reunidos por Lilti os assuntos são
desenvolvidos de forma fluida sem serem estendidos além do necessário e sem
carregarem qualquer ranço panfletário; ao contrário, o diretor opta por
preencher com bom humor sua obra – através da recriação hilária e um tanto
surreal do encontro dos médicos no refeitório do hospital – o que colabora para
torná-la ainda mais envolvente e cativante.
Uma grata surpresa, Hipócrates faz pensar o quão bom seria
se todo diretor/roteirista tivesse vivido na pele ou estudado anos a fio aquilo
que se propõe a tratar em seus respectivos títulos. O saber, empírico ou
científico, suplanta o mero instinto ou faro.
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1.Em entrevista, Thomas Lilti assim declarou: “Hipócrates é [...] um filme autobiográfico sem ser uma história verídica.
Benjamin sou eu, mas ele permanece como um alter-ego ficcional. Como ele, eu
era um interno muito jovem. Como ele, meu pai era médico. Mas além das minhas
experiências na medicina, eu queria falar sobre a estrutura e funcionamento do
hospital através do meu protagonista” (Versão integral da entrevista em: http://medias.myfrenchfilmfestival.com/medias/132/24/137348/presse/hipocrates-dossie-de-imprensa-ingles.pdf.
Acesso em 20.07.2015).
Título Original: Hippocrate
Direção: Thomas Lilti
Fotografia: Nicolas Gaurin
Roteiro: Thomas Litti, Baya Kasmi,
Pierre Chosson, Julien Lilti
Elenco: Jacques Gamblin, Reda Kateb, Vincent
Lacoste, Marianne Denicourt, Felix Moati, Carole Franck, Julie Brochen, Thierry
Levaret, Philippe Rebbot, Jeanne
Cellard
Edição: Christel
Dewynter
Duração: 102 min.
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