Los Hermanos – Esse É Só o Começo do Fim da Nossa Vida
Pisando em Ovos
Em entrevista para a Rolling Stone, Maria
Ribeiro, diretora e produtora do longa-metragem Los Hermanos – Esse É Só o Começo do Fim da Nossa Vida (Brasil,
2012) confessa que já havia pedido autorização ao grupo para registrar as
primeiras apresentações feitas após o anúncio da parada por tempo indeterminado,
quais sejam a de abertura do show do Radiohead em 2009, e aquela ocorrida no
festival SWU em 2010, o que fora negado pela banda que cedera ao pleito somente
em 2012 quando da realização da turnê comemorativa de 15 anos. Neste passo, Ribeiro
declara: “Eles realmente me abriram uma
guarda que não abrem para ninguém [...] eu
não ultrapassei nenhum limite [...] Isso
fez com que eles se sentissem a vontade para ter intimidade nos momentos em que
era possível”¹.
Tamanho cuidado no trato com os
músicos é sentida do lado de cá da tela de forma pouco satisfatória, na medida
em que fica nítida a impressão de que durante a captação das imagens a cineasta
consistia numa figura que, recém adentrada numa comunidade, pisava em ovos para
não desagradar ninguém. O resultado: um filme celebração que pouco revela sobre
as figuras retratadas, haja vista o pequeno número de cenas de bastidores, em
contrapartida a grande quantidade de sequências musicais que aproximam o documentário
de um simples registro de show em DVD – viés esse que, não obstante as belas
sequências filmadas nos palcos de diversas cidades, não supera o impacto do
show Los Hermanos no Cine Íris
lançado no mercado de home video em
2004.
Fã confessa da banda, Maria
Ribeiro se contenta em contemplar os artistas enquanto cantam, tocam e
conversam; de acordo com ela: “A
gente vive em uma era em que é tudo muito calculado [...] Então, para mim, você ver uma galera
relembrando o passado, tocando Raul Seixas e conversando besteira é ouro puro”.
Tal conclusão da diretora preza pelo subjetivismo podendo, desta feita, ser
facilmente contestada ao passo em que a ausência de informações relevantes de
seu filme não permite que o material captado seja encarado como “ouro puro”. Na verdade tal definição, para
ser justo, merece ser dirigida não a Los
Hermanos – Esse É Só o Começo do Fim da Nossa Vida e sim a Além do que se Vê, documentário de média
duração incluído como material extra no supracitado DVD Los Hermanos no Cine Íris.
Produzido pelos próprios hermanos,
Além do que se Vê registra os
bastidores da gravação daquele que sem exagero se firmou como o melhor disco de
rock/MPB dos anos 2000: Ventura.
Recheado de momentos ímpares como o instante em que a canção O Último Romance é batizada, bem como o
encontro da banda com os Paralamas do Sucesso, Além do que se Vê possui um valor histórico indiscutível na medida
em que atesta o ápice da criatividade de uma banda em seu momento de maior
excelência.
Na falta de material novo
produzido pela própria banda, Maria Ribeiro poderia ter aproveitado o tempo e o
espaço de seu filme para ao menos provocar os músicos e mostrar quem de fato
são aqueles homens idolatrados por tantos. Lamentavelmente, porém, a diretora
os mantém na zona de conforto e proteção contra a imprensa habilmente
construída pela banda ao longo de sua trajetória. Não a toa, vê-se a permanência
do protagonismo de Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante – o qual, aliás, é quem
mais interage com a câmera, mostrando um lado cômico distante da persona
normalmente marrenta assumida perante repórteres – e a manutenção da posição
coadjuvante de Bruno Medina e Rodrigo Barba, problema esse que é reconhecido
pela própria documentarista nos seguintes termos: “Eu queria ter ouvido mais o Bruno e o Barba, porque acho que o filme
acaba ficando mais com o Rodrigo e com o Marcelo”. Ao que parece a diretora
acabou, portanto, sendo conduzida pelos músicos através do caminho preferido
por esses quando o correto seria o contrário - o que não deixa de ser irônico
tendo em vista que Ribeiro produziu o filme com verba própria para ter total
liberdade artística.
Oportunamente lançado um semestre
antes do início de mais uma turnê esporádica do grupo, o documentário - para o
desespero dos fãs sedentos por informações e canções novas - não se arrisca,
contentando-se, por conseguinte, em ser chapa branca, daí que sua projeção nos
cinemas soa um tanto pretensiosa, afinal, considerando a forma como foi
estruturado, poderia o filme se limitar a servir de material extra para algum novo
registro de show porventura vendido no futuro – plataforma com a qual Além do que Se vê, mesmo tendo muito
mais valor e importância, se contentou.
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1. FONTE:
http://rollingstone.uol.com.br/noticia/eles-realmente-me-abriram-uma-guarda-que-nao-abrem-para-ninguem-diz-maria-ribeiro-diretora-de-novo-documentario-sobre-o-/#imagem0.
Acesso em 19.07.15.
Ficha Técnica
Direção: Maria Ribeiro
Estreia
no Brasil: 14.05.15
Duração:
85 min.
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