O Último Cine Drive-In
Mudança
de Hábitos
A metalinguagem em O Último Cine Drive-In (Brasil, 2014) se
debruça não sobre o fazer cinematográfico – algo já visto em títulos de
diversos gêneros – mas sim sobre o viés do mercado exibidor. Ok, o amor pela sétima
arte e, principalmente, pelo espaço físico no qual ela é projetada já fora abordado
em Cinema Paradiso (Itália/França,
1989), porém, o longa-metragem de estréia de Iberê Carvalho possui um elemento
diferenciador na medida em que direciona o foco para o choque entre passado e
presente acarretado a partir do fim de um cinema calcado na cultura analógica e
que agora perde espaço em definitivo para o formato digital.
Tal transição, cabe lembrar,
envolve não só a aposentadoria dos velhos projetores e as hoje antiquadas latas
e rolos de filmes como também dos cinemas de rua que funcionavam como negócio
de família. Numa realidade muito mais dinâmica e globalizada sobrevivem apenas
os grandes complexos de extensões nacionais ou multinacionais instalados nos
interiores de shopping centers para
onde o público, interessado ou não em cinema, se voltara - situação que, lógico,
também perpassa pela questão da falta de segurança das ruas. E é justamente a
melancolia em torno dessa mudança de hábitos que O Último Cine Drive-In capta e explora de maneira tão encantadora
em cenas que não raro dizem muito com o mínimo de diálogo – emblemática nesse
sentido é a seqüência em que o velho proprietário do cine drive-in resolve
experimentar um óculos 3D num ato de total estranhamento perante uma novidade fútil
e acessória que não raro é tratada como mais importante que o próprio trabalho
cinematográfico.
Infelizmente, porém, essa premissa
tão significativa acaba sendo relegada a um segundo plano por um roteiro que
não possui a audácia de manter a exclusividade de seu caráter poético e
nostálgico rendendo-se, assim, a soluções e fórmulas agradáveis ao grande
público. Ao trilhar um rumo cômico-aventureiro fortemente inspirado pela trama
de Adeus, Lênin! (Alemanha, 2003)
Iberê Carvalho faz sua obra padecer do mesmo mal que por vezes denuncia ao passo
em que abre mão do valor artístico em benefício de uma estratégia que garanta
maior rentabilidade financeira.
É sempre frustrante ver um
potencial enorme não ser aproveitado a contento. O mercado exibidor do cinema
analógico merecia um filme que sobre ele falasse e fizesse reverência do início
ao fim.
FICHA TÉCNICA
Direção: Iberê Carvalho
Roteiro: Iberê Carvalho, Zepedro Gollo
Elenco: André Deca, Breno Nina, Chico
Sant’anna, Fernanda Rocha, Mounir Maasri, Othon Bastos, Rita Assemany, Rosanna
Viegas, Vinícius Ferreira, Zé Carlos Machado
Produção: Carol Barboza, Pablo Peixoto
Fotografia: André Carvalheira
Montagem: Iberê Carvalho, J. Procópio
Trilha Sonora: Bruno Berê, Sascha Kratzer,
Zepedro Gollo
Estreia: 20/08/2015 (Brasil)
Duração: 100 min.
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