Clube dos Cinco
Além da
Superfície
É comum referir-se a Clube dos Cinco (EUA, 1985) como um
clássico da Sessão da Tarde, definição essa que soa um tanto reducionista à
medida que passa a impressão de ser este mais um trivial exemplo de comédia
adolescente feita para mero entretenimento¹. Felizmente esse não é o caso uma
vez que o diretor e roteirista John Hughes fora além da pretensão de divertir ao
optar por compor uma obra de personagens aparentemente caricatos, mas que não
tardam a revelar suas complexidades e a se afastar dos estereótipos aos quais provavelmente
se resumiam. Dentro deste contexto, Ricardo Calil assim observa:
“’Clube dos Cinco’ não permite uma celebração
fácil do passado, uma festa para se reconciliar com a juventude perdida.
[...] John Hughes [...] oferece uma visão
amarga da puberdade que não camufla o lado traumático dessa época”².
Ao descortinar os dramas domésticos de cada adolescente por
meio de uma toada teatral, Hughes se distancia da comédia e mergulha fundo nas
frustrações familiares³, indecisões sobre o futuro e anseios sexuais
experimentados pelos jovens e, felizmente, o faz com leveza, ao passo em que deixa
as figuras retratadas livres para abandonar suas defesas e inovar seus vínculos
de amizade - ainda que o meio no qual vivem não tolere a associação de tipos supostamente distintos como eles. Uma vez
percebido que suas dores são deveras parecidas, tais jovens enfim compreendem
que não há inferioridade entre eles, aprendizado gradual que em sendo conquistado
através da troca de experiências, permite a Hughes escapar do tom
professoral, das lições
de moral baratas e, por fim, entregar um trabalho encantador e não à toa hoje icônico.
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01.Circunstância
na qual também se insere Conta Comigo
(EUA, 1986) drama teen que tem a
morte a espreitar todas sua narrativa.
02. Clássico
oitentista, ’Clube dos Cinco’ oferece visão amarga da adolescência. Disponível
em http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2015/08/1663192-classico-oitentista-clube-dos-cinco-oferece-visao-amarga-da-adolescencia.shtml.
Acesso em 01.03.2018.
03.Como
afirma Ricardo Calil no texto acima referenciado: “Todos eles precisam lidar com as expectativas equivocadas dos pais”.
Ficha
Técnica
Título Original: The Breakfast Club
Direção e Roteiro: John Hughes
Produção: John Hughes, Ned Tanen
Elenco: Ally Sheedy, Anthony Michael Hall, Emilio Estevez, John Kapelos, Judd
Nelson, Molly Ringwald, Paul Gleason
Fotografia: Thomas Del
Ruth
Trilha
Sonora: Keith Forsey
Montagem: Dede Allen
Duração: 95 min.
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