Chacrinha – O Velho Guerreiro
Histórias de Bastidores
Chacrinha era uma figura kitsch, anárquica que se comunicava com
todas as classes sociais. A complexidade de tal êxito bem como o processo que
fez o criador Abelardo Barbosa se confundir com a criatura por ele inventada são
assuntos que Chacrinha – O Velho
Guerreiro (Brasil, 2018) não se esmera em refletir, eis que ao invés
de buscar desvendar a essência do personagem e de seu sucesso, o filme se dedica
quase que exclusivamente a relatar fatos e eventos marcantes na sua trajetória,
tarefa que, apesar de interessante, denota falta de ambição do roteiro, ainda
mais se levado em conta for que para alguns a obra possui inspiração em Bingo
– O Rei das Manhãs, cinebiografia marcada pela preocupação em apresentar
uma narrativa interessada em falar não só do personagem principal como também
daquilo que o circundava – no que se incluem os costumes de época e as pessoas
com quem se relacionava – cuidado esse que não é percebido em Chacrinha, afinal:
a) características comportamentais da sociedade
durante as décadas em que A. Barbosa brilhara no rádio e na TV são pouco
exploradas – daí fazer falta, por exemplo, um olhar mais aprofundado sobre a relação
conflituosa do protagonista com o governo militar, assim como também acerca das
acusações a ele dirigidas de receber “jabá” para que determinadas músicas
fossem reproduzidas em seus programas;
b) exceto no que atine a abordagem de Clara Nunes e de
José Bonifácio Sobrinho, o Boni, as celebridades e demais pessoas dignas de nota
que pela vida de Chacrinha passaram são subaproveitadas pelo longa-metragem, dada
a função de escada a elas confiada.
Uma análise apressada pode fazer
parecer que as atrações capitaneadas pelo Chacrinha não passavam de shows
escapistas e popularescos, conclusão que por vezes o título em comento parece
compartilhar ao se portar de tal forma e não salientar que além do
entretenimento havia por parte do velho guerreiro um claro empenho em romper
paradigmas, inquietação essa que ao promover a inovação da linguagem no rádio e
na televisão garantiu ao artista uma legião de admiradores. Dito isso, é uma
pena que, a despeito das minuciosas interpretações de Eduardo Sterblitch e Stepan Nercessian, a produção não
atente por completo para a amplitude do biografado e o mantenha limitado a reconstituição
de histórias de bastidores.
FICHA TÉCNICA
Direção: Andrucha Waddington
Produção: Altino Pavan, Angelo Salvetti, Valerio Cosimo
Roteiro: Carla Faour, Cláudio Paiva, Júlia Spadaccini
Elenco: Stepan Nercessian, Eduardo Sterblitch, Amanda Grimaldi, Antonio Grassi, Carla Ribas, Gianne Albertoni, Gustavo Machado, Jorge Ritchie, Juan Rangel, Karen Junqueira, laila Garin, Marcelo Serrado, Marie Paquim, Pablo Sanábio, Rodrigo Pandolfo, Thelmo Fernandes
Montagem: Sérgio Mekler
Fotografia: Fernando Young
Trilha Sonora: Antonio Pinto
Estreia: 08/11/2018
Duração: 114 min.
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