Ana e Vitória


Espírito da Época 
É louvável como mesmo, por exemplo, tendo apelo inclusive entre o público infantil, o duo Anavitória não fez questão de entregar um filme para toda a família em sua estreia no cinema. Neste passo, o longa-metragem Ana e Vitória (Brasil, 2018) almeja dialogar com a geração Z e seu respectivo Zeitgeist, daí porque mergulha fundo em assuntos como:

- a solidão em tempos de amores fluídos, não raro impulsionados por ferramentas virtuais;
- a ausência de padrões estanques no que tange a opção sexual de considerável fração da juventude atual, cenário esse em que a bissexualidade é encarada com destemida naturalidade pele enredo e pelas protagonistas que, assim, demonstram respeito pela história grande o bastante a ponto de não temerem a rejeição de eventuais admiradores conservadores.
Soma-se a esse quadro de qualidades a decisão de não inserir na trilha sonora os hits emplacados pela dupla em rádios e plataformas digitais, investindo-se, ao contrário, em canções menos conhecidas, o que denota o intuito de arriscar e acrescentar ao invés de fazer do título um mero produto publicitário escorado naquilo que já é de domínio coletivo. Além de, por óbvio, divulgar a dupla, a obra revela a sede por falar algo relevante para uma plateia recém-adentrada na fase adulta, tarefa cumprida com tamanho êxito que até quem sequer gosta do folk pop cantado pelas artistas acaba envolvido pelo trabalho.
Ana e Vitória só não é melhor em razão de alguns números musicais soarem por vezes deslocados em meio a uma narrativa que se propõe naturalista (o tom das interpretações das atrizes principais é um considerável indicativo nesse sentido), bem como em virtude de alguns personagens coadjuvantes – e respectivos intérpretes – restarem subaproveitados, tal como ocorre com as figuras do empresário e da secretária das cantoras (Bruce Gomlevsky e Thati Lopes), deslizes que, entretanto, não superam os méritos de uma realização que além de dispor de roteiro e protagonistas banhados por salutar ousadia, também conta na direção com Matheus Souza, cineasta que além da capacidade de apresentar soluções visuais inteligentes o bastante para driblar clichês (vale prestar atenção às mensagens de texto envidas através de aplicativos de telefone celular mostradas no plano de maneira a agregar valor a trama), ainda confirma a cada nova empreitada o quão bem sabe identificar as aflições, incongruências e anseios dos pós-millennials, geração hiperconectada que, desta feita, se vê dignamente retratada nas telas – vide as realizações anteriores do cineasta Eu Não Faço a Menor Ideia do que Eu Tô Fazendo com a Minha Vida (2011) e Apenas o Fim (2009).   
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FICHA TÉCNICA
Direção e Roteiro: Matheus Souza
Produção: Felipe Simas
Trilha Sonora: Anavitória
Elenco: Ana Caetano, Bárbara Dias, Bruce Gomlevsky, Bryan Ruffo, Caique Nogueira, Clarrisa Muller, Erka Mader, Gabriel Gonti, Gabriela Nunes, Guto Oliveira, Hamilton Dias, Jade Baraldo, mariana Nolasco, Mike Tulio, Nina Fernandes, Thati Lopes, Victor Lamoglia, Vitória Falcão
Estreia: 02/08/2018
Duração: 115 min.
Duração: 115 min.

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