A Paixão de Anna
Menor Sim.
Dispensável Jamais.
Ainda que em inferior em qualidade
se comparado aos principais títulos da filmografia de Ingmar Bergman, A Paixão de Anna (Suécia, 1969) detém
diálogos típicos da lavra do cineasta, o que não quer dizer pouca coisa dada a
profundidade dos mesmos. O problema, dentro deste contexto, reside na conexão
que alinha os diferentes núcleos de personagens, afinal, embora cada um
disponha de figuras com falas densas e irretocáveis, não há uma transição
harmônica entre tais polos da narrativa, daí por vezes a obra se assemelhar a um
filme coral, apesar de esta não ser a intenção.
A despeito de o título do longa-metragem
fazer parecer que o protagonismo da trama gira em torno da personagem
interpretada por Liv Ullmann é o papel de Max von Sydow¹ que recebe o destaque
principal, sendo aquele responsável por transitar entre as pontas soltas do
enredo e, desta feita, uni-las. Ocorre que a forma pouco convincente com que tal
costura é feita diminui a relevância do drama de alguns dos seres retratados²,
o que acaba por:
- agregar um ar de aleatoriedade a eles vide a frágil
maneira com que são emaranhados ao conjunto da história,
- tornar subaproveitadas as breves aparições de atores
excepcionais como Erlan
Josephson e Erik Hell.
Talvez no afã de associar os blocos
do script Bergman por vezes se vale da metalinguagem e inclui entrevistas com
os atores do filme que discorrem sobre seus papeis, medida que, há de se
convir, causa mais estranhamento do que benefício para a produção. Seja como
for, cabe repetir, mesmo um filme menor de Bergman merece atenção irrestrita,
pois em meio a equívocos há também brilhantismos que não requerem esforço para
ser detectados - vide, por exemplo, o incrível trabalho de fotografia de Sven Nykvist.
______________
1.
Cabe dizer que a relação vivida pelos personagens de Ullmann e Von Sydow
por vezes lembra aquilo que vivera o casal de Cenas
de um Casamento (Suécia, 1973), exceto pelo fato de que na obra em
comento o relacionamento praticamente já começa fracassado eis que sem indício
de sentimento verdadeiro em sua essência.
2.
O filme ainda apresenta um mistério envolvendo assassinatos de animais,
assunto que pode até gozar de um desfecho interessante, mas que mesmo assim soa
um tanto dispensável dada a falta de entrosamento desse tópico com o restante do
roteiro.
Título Original: En Passion
Direção e Roteiro: Ingmar Bergman
Produção: Lars-Owe
Carlberg
Elenco: Liv Ullmann, Bibi
Andersson, Max von Sydow, Erlan Josephson, Erik Hell, Sigge Fürst, Britta
Brunius, Malin Ek, Barbro Hiort af Ornäs
Edição: Siv
Lundgren
Fotografia: Sven
Nykvist
Direção de Arte: P.A.
Lundgren
Figurino: Mago
Duração: 101 min.
Comentários
Postar um comentário