Rocketman
Regularidade Morna
Certo ou errado parece um tanto inevitável avaliar Rocketman (EUA, 2019) em comparação com Bohemian
Rhapsody (EUA, 2018) dada a proximidade entre os lançamentos das obras
e os assuntos nelas tratados. Nesta toada, enquanto o filme que disseca parte
da trajetória do Queen possui qualidade oscilante, ao passo que intercala
momentos catárticos – proporcionados pela força da música da banda – com passagens
deveras questionáveis, o longa-metragem dedicado a Elton John apresenta uma
regularidade em sua narrativa que assim como não entrega nenhum deslize também
não chega a provocar emoções exacerbadas¹.
É fato que Elton John, a despeito da exuberância com que se
trajava e portava nos palcos, não buscou ser tão performático quanto Freddie
Mercury nem talvez tenha
a carreira, até o momento, marcada por um evento tão emblemático como a performance
do Queen no Live Aid (circunstâncias que, por óbvio, facilitam o caminho de Bohemian Rhapsody para
mexer com os sentimentos da plateia), carência de elementos essa que a ora
analisada cinebiografia compensa mediante o uso de uma linguagem lúdica que
mescla realidade com imaginação, liberdade poética bem-vinda e que permite uma
adequação das músicas àquilo que o enredo demanda – tal como visto, por exemplo,
em Across the Universe (EUA, 2007). Somando-se
ao flerte com a fantasia proposto há a reinterpretação das canções pelo elenco,
opção coerente que embora possa desagradar fãs puristas por certo se coaduna
com o aparente desejo de a produção tem de não ser tão vinculada a formatos e
convenções.
Com efeito, não interessa ao título em comento relatar
cronologicamente os momentos nos quais Elton John, em parceira com Bernie Taupin,
compôs seu catálogo de hits, mas sim
os sentimentos que moldaram o homem, o músico e consequentemente sua obra,
aspecto esse em que o filme ganha pontos por não tentar suavizar o envolvimento
do artista com drogas, tal como equivocadamente feito em Bohemian Rhapsody, postura que, vale frisar, denota um
interesse maior de Rocketman por ser
fiel a figura retratada sem a preocupação de ser chapa branca e/ou de garantir uma
classificação etária capaz de permitir que mais ingressos sejam vendidos.
É uma pena que, a despeito de tantas escolhas corretas, Rocketman não consiga trazer o
espectador para dentro da narrativa, daí este balançar o pé ao som das músicas,
mas não se sentir envolvido ou motivado a ponto de levantar e vibrar com o que vê
na tela, efeito que ecoa pela interpretação de Taron Egerton que, decidido a não
imitar o ídolo, com ele não se confunde, o que para o bem ou para o mal proporciona
um certo hiato entre a verve do real Elton John e a de seu intérprete.
Isto posto, Rocketman
pode ser definido como uma cinebiografia que não compromete nem arrebata. Pelo
visto, o recorte realizado não fora suficiente para atingir a magia e o poder do
repertório do artista, deficiência, aliás, percebida em tantas outras
cinebiografias musicais, vide os casos de Ray
(EUA, 2004), Johnny & June (EUA, 2005) entre
outras, o que pode explicar o porquê de a expectativa criada por aficionados
pela música quase sempre ser frustrada pelos resultados dos retratos
cinematográficos.
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1. Como observa Isabela Boscov: “A costura é mais interessante e coerente que a de Bohemian Rhapsody (é inevitável comparar os dois filmes), mas perde para ele em empolgação e naquele senso de crescendo que fez milhões de espectadores que nunca haviam ouvido falar de Freddie Mercury virarem fãs do Queen” (“Rocketman”: a ascensão de Elton John em formato de musical-delírio. Acesso em 17/06/2019).
FICHA TÉCNICA
Direção: Dexter Fletcher
Roteiro: Lee Hall
Produção: Adam Bohling, David
Furnish, David Reid, Elton John, Lawrence
Bender, Matthew Vaughn
Elenco: Alison Ball, Benjamin Mason, Bryce Dallas Howard, Eddie Register,
Guillermo Bedward, Jamie Bacon, Jamie Bell, Kamil Lemieszewski, Luke White,
Richard Madden, Samuel Magee, Solomon Mousley, Taron Egerton
Fotografia: George Richmond
Trilha Sonora: Matthew Margeson
Montagem: Chris Dickens
Estreia: 30/05/2019
Duração: 121 min.
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