Yesterday


Tempo Perdido


Yesterday (Reino Unido, 2019) fracassa miseravelmente naquilo que pretendia: mostrar como seria um mundo no qual os Beatles e seu repertório jamais houvessem sido uma realidade. Tal saldo negativo decorre do fato de o filme, ao invés de enfatizar as canções ou a colaboração cultural dos músicos para a humanidade, preferir perder tempo com assuntos nada relevantes, no que se inclui um romance bobo e previsível, bem como uma atenção demasiada ao músico Ed Sheeran que, pelo menos, tem humor suficiente para reconhecer que sua produção não chega aos pés do legado deixado por John, Paul George e Ringo. Aliás, as piadas nesse sentido feitas, somadas a algumas outras poucas (como aquela que cita a inexistência da banda Oasis em decorrência do não surgimento dos fab four) são os únicos elementos que de maneira isolada funcionam em meio a um roteiro preguiçoso que desperdiça uma ideia interessante com um desenvolvimento formulaico – dentro deste contexto, um exemplo do desleixo que caracteriza o script pode ser constatado em torno do apagão global que acarreta a extirpação dos rapazes de Liverpool e de itens como o cigarro e a coca-cola como se antes nunca tivessem existido, situação extraordinária essa que não recebe qualquer arremedo de explicação e que, mesmo se justificada pelo tom de farsa da narrativa, deixa uma inevitável sensação de aleatoriedade pairando no ar quanto a esse ponto de virada da trama.

Enquanto de um lado, por exemplo,
- Across the Universe (EUA, 2007) entregava sequências complexas e de inegável beleza para ilustrar e assim destacar as composições gravadas pelo quarteto,
- Uma Lição de Amor (EUA, 2001) inseria de forma sensível na trama o material musical dos Beatles através de regravações de fazer cair o queixo,
Yesterday, por outro lado, executa em modo automático e, portanto, sem qualquer brilho grandes clássicos do grupo e, o que é pior, o faz com um medo danado de não enaltecer seu protagonista nem fazê-lo parecer um crápula, eis que o mesmo se apropriara de tal cancioneiro como se fosse seu aproveitando a falta de lembrança/conhecimento do planeta inteiro acerca da pré-existência das referidas pérolas, o que explica o porquê de o melhor momento do longa-metragem ocorrer já nos créditos finais quando Hey Jude é tocada em sua versão original, sem qualquer outro apetrecho relacionado ao filme, circunstância, há de se convir, que denota o quão pouco satisfatório é o trabalho dirigido pelo oscarizado Danny Boyle.

Ficha Técnica

Direção: Danny Boyle
Roteiro: Jack Barth, Richard Curtis
Produção: Bernard Bellew, Danny Boyle, Eric Fellner, Matthew James Wilkinson, Richard Curtis, Tim Bevan
Elenco: Alexander Arnold, Ana de Armas, Atul Sharma, Camilla Rutherford, Camille Chen, Díana Bermudez, Dominic Coleman, Ed Sheeran, Ellise Chappell, Himesh Patel, Hiten Patel, James Corden, Jennifer Armour, Joel Fry, Kate McKinnon, Kyle James, Lamorne Morris, Lily James, Maryana Spivak, Sophia Di Martino
Fotografia: Christopher Ross
Trilha Sonora: Daniel Pemberton
Montagem: Jon Harris
Estreia Brasil: 29.08.2019
Duração: 112 min.

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