Bacurau
Futuro em Xeque
Bacurau (Brasil/França, 2019) se vale da
estrutura narrativa do gênero americano por excelência, o faroeste, para realizar
oposição a subserviência brasileira ao poderio estadunidense, bem como a
conduta armamentista de tal povo que tanto se espraia em solo tupiniquim. Esta,
contudo, é apenas uma das muitas facetas apresentadas pelo longa-metragem de
Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles que juntos atualizam o filão dos
filmes de cangaço típicos do Cinema Novo para, dentro deste contexto, tecer
críticas ao Brasil atual e ao futuro perigosamente hiperconservador para o qual
caminha. Neste passo, os diretores aqui e ali enaltecem figuras públicas para
eles injustiçadas pela recente história nacional, deixando também no ar
reflexões sobre o quão preconceituoso, grosso modo, o brasileiro das regiões
sul e sudeste é perante seus semelhantes das demais áreas do país e o quão
inocente e equivocadamente imaginam dispor uma superioridade que lhes confere status igual ao daqueles que vivem em
nações desenvolvidas para quem, a bem da verdade, não passamos na totalidade de
figuras descartáveis e limitadas a objeto de exploração.
Todos esses
argumentos, cabe repetir, são estruturados a partir do formato clássico do western: comunidade ameaçada por
pistoleiros e abandonada a própria sorte recorre a ajuda de um anti-herói para
não sucumbir perante aqueles que a ameaçam. Tal mote inicialmente abordado por
Akira Kurosawa em Os Sete Samurais (1954)
fora replicado em roteiros de inúmeros faroestes norte-americanos, vide os
casos de Os Imperdoáveis (1992), O Estranho sem Nome (1973), Sete Homens e um Destino (1960) entre
outros, constatação que, entretanto, não implica dizer que Bacurau seja mais do mesmo já que essa fórmula aparentemente
desgastada é, como visto, utilizada em benefício de um conteúdo rico em
mensagens sobre o ontem, o hoje e o amanhã – afinal, inevitável, nesse sentido,
não se incomodar com a frase final dita pelo personagem de Udo Kier: “isso é apenas o começo”.
FICHA
TÉCNICA
Direção e Roteiro: Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
Produção: Emilie Lesclaux, Michel Merkt,
Olivier Père, Saïd Ben Saïd
Elenco: Alli
Willow, Antonio Saboia, Barbara Colen, Brian Townes, Buda Lira, Chris Doubek,
Clebia Sousa, Edilson Silva, Jonny Mars, Julia Marie Peterson, Karine Teles,
Rodger Rogério, Rubens Santos, Silvero Pereira, Sonia Braga, Thomas Aquino, Udo
Kier, Uirá dos Reis, Valmir do Côco, Wilson Rabelo
Montagem: Eduardo Serrano
Estreia: 29/08/2019
Duração: 131 min.
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