Spielberg


Elogios Sem Fim
Spielberg (EUA, 2017) se contenta em ser chapa-branca e foge da polêmica. Feito exclusivamente em homenagem ao cineasta, o documentário até reconhece a pequenez de certos títulos seus, mas o faz pela via do silêncio ao quase não os citar – exceção nesse sentido feita para a comédia 1941 - Uma Guerra Muito Louca (EUA, 1979) já que cronologicamente representa a primeira queda do diretor após uma sequência de sucessos de público e crítica.
Dentro deste contexto, curiosidades sobre os bastidores de suas produções são ignorados para que assim sobre bastante espaço para uma longa série de relatos elogiosos¹ e para análises que relacionam o contexto de sua filmografia com seu histórico familiar², abordagens que se por um lado enriquecem o conhecimento de qualquer cinéfilo por outro lado deixam de enfrentar a contento aquela que é a problemática mais recorrente relacionada ao artista, qual seja o fato de em determinados trabalhos ser sentimental ou infantil em demasia. Com efeito, Bruno Carmelo assim constata:
“o filme evita comentários não elogiosos. O intuito do projeto é provar a genialidade do diretor, desencadeando um festival de cumprimentos mútuos, com os técnicos e atores exaltando Spielberg enquanto Spielberg exalta os seus colaboradores. Os fracassos do diretor mal são citados (O Bom Gigante Amigo, Cavalo de Guerra, As Aventuras de Tintim), e nenhum contexto histórico é utilizado para justificar o modo do cineasta filmar. Spielberg é a única medida de sua própria qualidade: para compreender porque ele fez cada um de seus filmes, [a diretora Susan] Lacy busca elementos na infância, na criação dos pais. [...] Paralelamente, na intenção de sustentar a ideia de autor, Spielberg é lembrado somente pela função de cineasta, não como produtor de obras alheias (os menos prestigiosos Transformers  e Cowboys & Aliens, por exemplo)”³.
Ao que parece para alguns documentaristas filmes-tributos não podem passar perto de qualquer comentário negativo sobre o ser abordado e sua obra, posicionamento que pode até gradar o ego dos homenageados, mas que não raro enseja resultados aquém de seus êxitos e de suas ousadias.
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01.     Não à toa, Camila Sousa observa que “depois do quinto ou sexto depoimento [...] o documentário dá uma sensação de que não sai do lugar, mostrando informações novas, mas que querem dizer sempre a mesma coisa” (Spielberg – Crítica. Disponível em https://www.omelete.com.br/filmes/criticas/spielberg-critica. Acesso em 30/10/19), daí Thales de Menezes concluir que Spielbergpoderia ser encurtado, talvez sem alguns depoimentos laudatórios estéreis” (Documentário Spielberg é Fascinante Para os Fãs do Diretor. Disponível em https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/10/1925429-documentario-spielberg-e-fascinante-para-os-fas-do-diretor.shtml. Acesso em 30/10/19).
02.     Neste diapasão, Thiago Borbolla escreve que aquilo que de melhor Spielberg possui advém da: “contextualização dos filmes em relação à vida do diretor, que basicamente usou três temas durante toda a sua carreira: bullying, a relação conturbada com seu pai e política, ainda que, como o próprio diretor diz, todos os filmes sejam sobre ‘separação e reunificação’” (Spielberg. Disponível em https://judao.com.br/spielberg-doc-hbo-resenha/#.Xbl2djJv_IU. Acesso em 30/10/19).
03.     Spielberg - Todas as virtudes de Steven. Disponível em: http://www.adorocinema.com/filmes/filme-258573/criticas-adorocinema/. Acesso em 30/10/19.

FICHA TÉCNICA

Direção: Susan Lancy
Estreia: 09/10/2017 (diretamente para a TV)
Duração: 140min.

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