Let It Be

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Presente Para a Humanidade

 Inegavelmente a interpretação das imagens do documentário/show Let It Be (Reino Unido, 1970) carece de certo conhecimento prévio sobre a história dos quatro rapazes de Liverpool, tamanha a sutileza com a qual são mostradas as chagas que em breve culminariam no fim dos Beatles.

Neste passo, o que se vê é a quase que desesperada tentativa de Paul McCartney em manter o grupo unido e a incentivar a atuação em conjunto dos músicos seja compondo, seja tocando. Em contrapartida, John Lennon, ainda imerso na onda flower power, dispensa atenção plena a sua musa da discórdia Yoko Ono, permanecendo, assim, alheio tanto as dissidências quanto a expansão do trabalho da banda.
Ringo Starr, por sua vez, ocupa a tradicional posição coadjuvante, exceto pela relevante aproximação a George Harrison que, aparentemente, era o único dentre os demais a estimular o talento daquele.
George, aliás, pode até ter um pequeno tempo de aparição em tela, mas sua figura e seu nome soam sempre como fundamentais, dada sua notória intolerância para com Paul em discussões de ensaio e em virtude da declaração deste último, numa conversa com John, de que o filme Let It Be, apesar de realizado sem a concordância de George, poderia ser uma forma de reaproximar os artistas do público, visto que o jejum de shows, segundo fala de McCartney – também não contestada por Lennon – resultava do fato de Harrison não mais ver sentido naquilo.
Longe de querer vilanizar George – que, pelo visto, suportava cada vez menos as brigas e a convivência com o restante da banda – o documentário deixa que as imagens falem por si para que os próprios espectadores elaborem suas conclusões.
Muitos, por conseguinte, entenderam a obra como um pretensioso grito de liderança de Paul, o que, por certo, é um equívoco, eis que o artista domina o longa-metragem, assim como o álbum, de ponta a ponta em razão da pouca atenção dispensada ao trabalho pelas outras mentes criativas do grupo, o que, por outro lado, não implica numa queda de qualidade das músicas, afinal, Let It Be deixa evidente que mesmo quando parte da banda levava nas coxas uma nova produção, ainda assim, o produto final não era menos que brilhante.
                  Os Beatles, por fim, podem até não ter voltado a fazer shows para grandes plateias, entretanto, graças ao projeto deste longa-metragem, o desejo de Paul em voltar a tocar ao vivo se concretizou quando da histórica performance surpresa realizada no telhado da gravadora Apple, cuja captação de imagens servira para fechar com ousadia e originalidade o filme - tratam-se de eventos memoráveis que serviram para prolongar a sobrevida do grupo quando, mesmo após seu término oficial, as canções gravadas foram compiladas e mixadas para serem lançadas como o derradeiro LP da banda.
Let It Be, desta feita, consiste em mais um dos muitos presentes de Paul para a humanidade, o que reforça a ideia do quão injusta fora a pecha de responsável pelo fim da banda e do sonho por ele carregada durante anos, afinal, as cenas do longa-metragem provam que tentar, insistir foram coisas que o músico, sem dúvida, fez.


Ficha Técnica

Produtores: Mal Evans, Neil Aspinall
Duração: 81 min,

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