Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois
A Felicidade e Seus Caminhos Tortuosos
Jules ama Catherine que, por sua vez, ama Jules mas também Jim. Jules e Jim são amigos unidos por semelhantes filosofias de vida e pelo amor de uma mesma mulher: Catherine.
Se atualmente triângulos amorosos não são nenhuma novidade no cinema, Jules e Jim – Uma Mulher Para Dois (França, 1961) apresentou à época de seu lançamento um inconteste frescor narrativo, dada a forma com que levantou questionamentos morais – atinentes, sobretudo, a fidelidade – sem, entretanto, realizar julgamentos sobre seus protagonistas.
Nesta toada, o diretor François Truffaut dispensa a abordagem de personagens secundários – chegando ao extremo de até mesmo ignorar a partir de certo instante a existência da filha menor gerada do matrimônio de Jules e Catherine – como forma de rejeitar o eventual olhar de repúdio fulcrado em convenções sociais.
Para Truffaut seus personagens são pessoas fidedignamente comprometidas com as próprias felicidades – mesmo que de tal comportamento resulte o egoísmo – o que lhes impede, por conseguinte, de serem enquadrados nas simplórias definições de certo ou errado.
Catherine, por exemplo, chega a exaltar certo ar infantil – ainda mais quando, numa antológica seqüência, Truffaut faz alusão a O Garoto (EUA, 1921) de Chaplin, travestindo a personagem tal qual o moleque daquela obra -, enquanto o próprio peso na consciência de Jim é aplacado pela compreensão de seu amigo traído Jules.
Demonstrando, portanto, que paixão e amor podem sim fazer parte de um mesmo lado da moeda, não estando qualquer um dois limitado ao tempo, ao espaço nem a moral assim definida pelo homem, Truffaut logrou êxito em realizar um trabalho autenticamente romântico, não obstante a dramaticidade imbuída tanto nos dilemas dos três amantes quanto no desfecho da história.
Inspirado nos ideais reacionários da Nouvelle Vague, o cineasta fez de Jules e Jim uma experiência inovadora no que concerne os aspectos da narrativa e da própria técnica cinematográfica, razão pela qual, o poder de influência do longa-metragem se reflete ainda hoje, seja, por exemplo, através da ritmada narração que se tornou espécie de artifício pop manejado nas introduções dos romances descolados filmados nas últimas décadas, seja pelo próprio término que em muito lembra algo que Ridley Scott também utilizara em seu Thelma & Louise (EUA, 1991).
COTAÇÃO - ☼☼☼☼
Ficha Técnica
Titulo Original: Jules et Jim
Direção: François Truffaut
Roteiro Adaptado: François Truffaut, Jean Gruault
Produção: Marcel Berbert
Elenco: Jeanne Moreau, Oskar Werner, Henri Serre, Vanna Urbino, Boris Bassiak, Anny Nelsen, Sabine Haudepin, Marie Dubois, Christiane Wagner, Michel Subor
Música: Georges Delerue
Duração: 100 minutos
Curiosidade: “A trama é baseada em um romance autobiográfico de Henri-Pierre Roché que Truffaut comprou em um sebo (...) encantado com o que chamava de ‘perfeito hino ao amor e, talvez, à vida’. O então crítico prometeu que, caso um dia fizesse filmes, adaptaria Jules e Jim. (...) Em 1971, o diretor adaptaria mais um livro de Henri-Pierre Roché, Duas Inglesas e o Amor”. Fonte: Bravo! 100 Filmes Essenciais. 3ª Ed. São Paulo: Abril, 2009. p. 43.
Apenas me perguntando: PORQUE eu ainda não vi este filme!
ResponderExcluir....
O filme é intrigante, Truffaut deixa bem clara a dependência de Julie por Catherine. Deixando qualquer um possuí-la no entanto que ela volte para ele. É como se a orgia se tornasse símbolo de liberdade, ela é uma louca.....rsrsrsrs. Mas acho que é isso que a torna tão atraente.
ResponderExcluirLindo filme, de uma demasiada delicadeza. Adorei o seu texto gosto quando as pessoas observam detalhes que ninguém vê. É o vício dos escritores...rsrsrsrs