O Filho da Noiva


Orgulhosamente Melodramático

Em O Filho da Noiva (Argentina, 2001) Rafael Belvedere (Ricardo Darín), após sofrer um enfarto, aproveita os dias de internação hospitalar para avaliar seus passos e a forma como tem se relacionado com as pessoas, ocasião em que, ato contínuo, decide aumentar sua qualidade de vida através de decisões voltadas a excluir os problemas tanto da esfera pessoal quanto profissional.
Fundado em temáticas novelescas, o cinema de Juan José Campanella é moldado numa estrutura consideravelmente nostálgica, dado o tom melodramático que permeia sua narrativa clássica.
Neste diapasão, o melodrama, frise-se, é despido de qualquer conotação negativa, eis que trabalhado com extrema elegância, razão pela qual o apelo popular não soa gratuito, mas sim respeitoso, afinal, o cineasta convoca a platéia não só pela emoção como também pela instigação, retirando aquela, assim, da mera posição espectadora.
De grande valia para o êxito da filmografia de Campanella, cabe lembrar, é a parceria construída com o ator Ricardo Darín, o qual, com seu jeito de galã por acidente, interpreta com discrição aquele que talvez seja o mais difícil de todos os papeis: o homem comum.
Munido de um semblante maroto Darín vivifica seres que poderiam ser qualquer um de nós, tarefa essa que, por ser executada com tanta dignidade, justifica plenamente o título de “a cara do novo cinema argentino” que não raro lhe é outorgado, bem como firma seu bate-bola com Campanella como uma das mais produtivas parcerias ator-diretor já realizadas desde os tempos de Scorcese e De Niro.
Tantas façanhas, desta feita, se reúnem para que O Filho da Noiva se mostre uma bela e prazerosa experiência – ainda que superada pelo magistral O Segredo dos Seus Olhos (El Secreto de sus Ojos, 2009), o que não deixa de ser ótimo, visto que é um deleite para qualquer cinéfilo ver um filme excelente ser suplantado por outro de virtudes ainda maiores.
Dentro deste contexto, como a comparação fílmica acabou tomando espaço na análise, faz-se mister ressaltar, por fim, o elemento de O Filho da Noiva indiscutivelmente superior ao da produção de 2009 vencedora do Oscar de melhor filme estrangeiro, qual seja a conclusão, pois, ao contrário do término um pouco fantasioso de O Segredo dos Seus Olhos, a obra de 2001 ora comentada é encerrada da forma mais poética e realista possível: exatamente como começou (!!); numa prova de que, por vezes, as mudanças mais significativas são geradas de dentro para fora e não no sentido inverso.

COTAÇÃO - ☼☼☼☼         

Ficha Técnica
Título Original: El Hijo de la novia
Elenco: Adrián Suar (Dodi)Héctor Alterio (Nino Belvedere)Norma Aleandro (Norma Belvedere)Eduardo Blanco (Juan Carlos)Natalia Verbeke (Naty)Rogelio Romano (Gavilán)Pablo Ingercher Casas (Walter) Humberto Serrano (Padre Mario) Gabriel Eisbruch (Monaguillo)Ricardo Darín (Rafael Belvedere) Quico AlfonsinFabián Arenillas (Sciacalli)Giorgio Bellora (Marchiolli) Juan José Campanella (Médico) Aldo TavagnuttiLeón Dogodny (Polo)Lucas de Diego (Rafael Belvedere (niño))David Masajnik (Nacho)Walter Mackenzie (Rosales)Antonio Caride (Padre Naty)Alicia  RodriguezGimena Nóbile (Vicky)Claudia Fontán (Sandra)Mónica Cabrera (Carmen))Daniel Kazimierski (Juan Carlos (niño))Diego Mackenzie (Rosales))Salo Pasik (Daniel)Atilio Pozzobon (Francesco)
Estreia no Brasil: 16 de Agosto de 2001
Duração: 123 minutos

Curiosidade: O Filho da Noiva representou a Argentina no Oscar de 2002, concorrendo com O Fabuloso Destino de Amélie Poulin e perdendo para Terra de Ninguém.

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