Ilha das Flores


Orgulho Nosso

Sob a forma de um telecurso Ilha das Flores¹ (Brasil, 1989) arrebata o espectador mediante o riso da mea culpa. Ao discorrer sobre a miséria que leva humanos a disputar comida em meio aos restos não utilizados para a alimentação de porcos, Jorge Furtado revela o principal caráter de sua obra: uma irônica e ácida crítica ao capitalismo enquanto instrumento de exclusão e de desigualdade social.
Neste sentido, embora registre uma mazela localizada em chão nacional e seja musicado por um tema extremamente ufanista², o filme trata de problemas que não são exclusivos e restritos as nossas fronteiras, podendo, assim, ser compreendido e apreciado em qualquer canto do planeta – daí o Urso de Prata recebido em Berlim.  
Há quem diga, porém, que a linguagem de Ilha das Flores não seria tão inédita, eis que possível identificar certa semelhança com o viés repetitivo também utilizado no curta-metragem A Velha a Fiar (Brasil, 1964) de Humberto Mauro. Comparações a parte, uma vez que os filmes são completamente diversos quanto as temáticas, não há como negar que o sarcasmo de Furtado, aliado a um discurso objetivo que não dá margem a interpretações secundárias, tornou Ilha um exemplo contemporâneo de influência em trabalhos cinematográficos e publicitários.
Eis, portanto, uma realização que, tal qual a trajetória do tomate cultivado pelo Sr. Suzuki, parte de um ponto micro para alcançar um efeito macro, mérito esse que enquadra Ilha como uma das grandes obras já feitas no cinema não só brasileiro mas mundial. Orgulho nosso!
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1.     Leia mais sobre Ilha das Flores em http://setimacritica.blogspot.com/2010/06/diversificacao.html
2.     O Guarani, de Carlos Gomes.

Ficha Técnica

Direção e Roteiro: Jorge Furtado
Produção: Nora Goulart, Monica Schmidt
Elenco: Ciça Reckziegel, Douglas Trainini, Júlia Barth
Edição: Giba Assis Brasil
Música: Geraldo Flach
Duração: 12 min.

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