Como Não Perder Essa Mulher
Tão Atual Quanto Desnecessário
Em tempos de Lulu e Tubby
Como Não Perder Essa Mulher (EUA,
2013) se mostra oportuno ao reproduzir na tela o antigo costume masculino de
atribuir notas a mulheres que, quando em suas mãos, são tratadas como meros objetos
descartáveis.
Lamentavelmente, porém, a
mesma superficialidade que caracteriza o uso daqueles aplicativos também se faz
presente nesta estreia de Joseph Gordon-Levitt enquanto diretor de
longa-metragem. Por certo, o principal problema da produção reside no roteiro
maniqueísta, previsível e sexista. Aliás, ao escrever, dirigir e protagonizar o
filme, Gordon-Levitt se contamina por narcisismo semelhante ao de seu
protagonista, fazendo da obra uma simples vitrine de um ego inflado. Neste
diapasão, embora lhe falte a mesma competência, densidade e olhar clínico, o
jovem faz-tudo parece se considerar o Orson Welles ou o Alejandro Jodorowsky¹
de sua geração, afinal, outra explicação não há para sua pretensão de
acrescentar algo ao tema do vício por sexo e/ou pornografia mesmo após o
recente Shame (Reino Unido,
2011) ter praticamente
esgotado o assunto.
Assim, conforme esperado,
a empreitada se revela um tiro no pé graças a uma abordagem que, além de rasa,
peca pela falta de verossimilhança de certas passagens e pela concessão
comercial vista no clichê que é o final redentor. Não fosse o bastante, o
humor, à la sitcom versão American Pie, soa grosseiro,
desagradável, ao passo em que a inserção do drama colabora para deixar
desarmônica a narrativa. Neste passo, até o furacão Scarlett Johansson é
subaproveitado num papel unidimensional que não deixa margem para
interpretações distintas - a forma como a personagem fora escrita, vale dizer,
é um exemplo de como Gordon-Levitt impõe sua ótica machista sem deixar o
espectador livre para tanto. Por último, somente quem consegue agregar algum
valor a obra é a sempre ótima Julianne Moore, responsável pelos únicos momentos
dignos de nota de uma realização, no mínimo, desnecessária.
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1. Tais artistas viveram seus ápices no cinema escrevendo, dirigindo e
protagonizando, respectivamente, Cidadão
Kane (1941) e El Topo (1970).
Ficha
Técnica
Título
Original: Don Jon
Direção e Roteiro: Joseph Gordon-Levitt
Produção: Ram
Bergman e Nicolas Chartier
Elenco: Joseph Gordon-Levitt, Scarlett Johansson, Julianne Moore, Tony
Danza, Brie Larson, Rob Brown, Lindsey Broad, Jeremy Luke
Duração:
90 min.
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