Tabu
Inspiração Superada
Apesar de o cineasta Miguel Gomes relutar em assumir¹, rotineiramente
afirma-se que Tabu (Portugal, Alemanha, Brasil, França/2012) é livremente inspirado no filme homônimo
que Friedrich Wilhelm Murnau
dirigiu em 1931 a partir de roteiro escrito em parceria com Robert J. Flaherty.
Dito isso, faz-se mister compreender primeiramente a obra supostamente
inspiradora para, adiante, analisar-se a inspirada, senão vejamos:
O trabalho finalizado por Murnau pouco tempo antes de sua trágica
e precoce morte consiste no retrato de um amor proibido em meio aos costumes e
tradições de uma comunidade exótica qual seja aquela dos nativos da ilha de
Bora-Bora. Neste sentido, em razão da toada de forte tom
documental/antropológico, não obstante a natureza ficcional do enredo, é possível
concluir que o filme tem menos a ver com Murnau e mais com o Flaherty
consagrado pela direção de documentários como Nanook, o Esquimó (1922), já que, como dito, a produção se
concentra mais nas nuances de uma cultura do que propriamente sobre o caso de
amor dos protagonistas. Por isso, se uma relação filmográfica tiver de
necessariamente ser feita, o Tabu
português dialoga na verdade com Aurora² (1927),
outro título de Murnau, eis que ambos enveredam pelo drama de triângulos
amorosos marcados pela infidelidade conjugal.
Com efeito, o Tabu de
2013 e o de 1931 possuem em comum apenas os nomes de seus dois capítulos (Paraíso Perdido/Paraíso) e a
ambientação em áreas longínquas e paradisíacas, quais sejam, respectivamente, a
África e a já citada Bora-Bora. Uma vez que poucas são as semelhanças
existentes, não é errado concluir que a realização portuguesa se vincula
desnecessariamente a alemã, assumindo, desta feita, o ônus de ficar sob a
sombra de um clássico ainda que seja muito superior a este, isso porque, embora
não inove no quesito roteiro, o Tabu
dirigido por Miguel Gomes exemplifica o que ocorre quando a elegância se
transforma em originalidade, vide as impecáveis técnicas de fotografia e
decupagem empregadas. Talvez se o atual Tabu fosse contemporâneo ao cinema mudo
seria provavelmente considerado uma obra-prima da narrativa cinematográfica³ ao
invés de passar tão despercebido pelo público e até mesmo por considerável
fração da crítica especializada nacional como infelizmente passou.
__________________
1.Aspecto esse sobre o qual se recomenda a leitura da entrevista
transcrita no seguinte link: http://visao.sapo.pt/miguel-gomes-um-cineasta-sem-tabus=f656349#ixzz2DdyiJEsy.
2.Neste sentido, é mais do que óbvio que o nome Aurora dado a
protagonista do filme português não é uma mera coincidência.
3. Não a toa o periódico alemão 'Berliner Zeitung', ressaltou que o filme possui “aspectos enervantes,
que parecem ansiar por uma posterior apreciação acadêmica e pela canonização na
história do cinema” (FONTE: http://sol.sapo.pt/inicio/Cultura/Interior.aspx?content_id=41564.
Acesso em 27.12.13).
Direção: Miguel Gomes
Roteiro: Miguel Gomes e Mariana Ricardo
Produção: Luís Urbano, Sandro Aguillar
Elenco: Laura Soveral, Ana Moreira, Henrique Espírito Santo, Carloto
Cotta, Ivo Muller, Teresa Madruga, Isabel Cardoso, Telmo Churro
Fotografia: Rui Poças Montagem:
Telmo Churro, Miguel Gomes
Formato: 35 mm (parte 1) e 16 mm (parte 2),
p/b, 1:1.37, Dolby SRD (uniformizado em 35 mm)
Estreia no
Brasil: 28.06.2013
Duração: 118 min.
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