Noé



Pataquada de Proporções Bíblicas

Segundo Darren Aronofsky seu objetivo ao levar Noé (EUA, 2014) para as telas fora criar “um mundo bíblico de fantasia, como uma Terra Média”¹. Tal fonte de inspiração estética, aliás, nem precisava ser revelada pelo cineasta, eis que nítida é a influência da trilogia O Senhor dos Anéis neste que prometia, em razão dos nomes envolvidos, ser um épico memorável, mas que resultou numa das mais esdrúxulas pataquadas já produzidas por Hollywood.
A partir de um roteiro seu, Aronofsky consegue a proeza de superar a ruindade de A Fonte da Vida (EUA, 2006) devido ao abuso de licenças poéticas praticado em sua escrita,  o que inclui, por exemplo, os famigerados gigantes de rocha que se aliam a Noé para construir a arca e combater os humanos que tentam invadi-la.
Convenhamos que a história do dilúvio universal já possui no próprio texto de origem elementos que fogem o bastante de uma compreensão racional e que são aceitos apenas por motivos de fé e crença, daí porque não precisava o diretor e roteirista incrementar o roteiro com ainda mais fantasia até porque inovações desse porte demandam uma considerável complacência por parte do público, aceitação essa que em não existindo pode comprometer as pretensões comerciais do longa-metragem.
No elenco Russel Crowe repete o ar de anti-herói carrancudo lançado em Gladiador (EUA, 2000) e depois utilizado em Robin Hood (EUA, 2010), ao passo que Anthony Hopkins se contenta com a formulaica figura do ancião conselheiro, enquanto Jennifer Connelly e Emma Watson fazem o que podem dentro das limitações de seus papeis e, por fim, de um lado Logan Lerman compõe o tipo Judas indeciso e Ray Winstone de outro lado representa o mero vilão canastrão.
Aronofsky já contemporizou que as liberdades artísticas por ele tomadas resultaram da brevidade com que a saga é narrada na Bíblia. De acordo com o cineasta: “Noé, como personagem, nunca fala no livro de Gênesis, então o desafio foi fazer uma história a partir disso”². Dito isso, um aprofundamento no desenho dos personagens no que tange sobretudo seus temores e arrependimentos, por certo, seria uma opção melhor do que o apelo feito ao universo fantasioso de videogame (será que em breve o filme será transposto para essa plataforma?).
O problema, caso assim fosse feito, seria o filme se tornar uma programação adulta e reflexiva ao invés do entretenimento recheado de efeitos especiais que normalmente gera sucesso nas bilheterias. Infantil, portanto? Nâo! Contra essa possível conclusão, a obra apresenta a devida camada de verniz ecochato capaz de fazê-la parecer mais do que na verdade é. Até parece...
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1.Revista Preview. Ano 5. ed. 54. São Paulo: Sampa, Março de 2014.  p.24.
2.Op. Cit. p. 27.



Ficha Técnica


Título Original: Noah

Direção: Darren Aronofsky

Roteiro: Darren Aronofsky, Ari Handel

Produção: Darren Aronofsky, Scott Franklin, Arnon Milchan, Mary Parent

Produção Executiva: Chris Brigham, Ari Handel

Elenco: Russell Crowe, Emma Watson, Logan Lerman, Anthony Hopkins, Jennifer Connelly, Douglas Booth, Ray Winstone, Kevin Durand, Marton Csokas, Dakota Goyo

Estreia: 08.03.14                              Estreia no Brasil: 03.04.2014

Duração: 138 min.

Comentários

  1. Dario gostei bastante dos seus textos criticos dos filmes. Não teria interesse em escrever para o Manicômio Séries.

    Estamos no ar a mais de dois anos e agora estamos focados em tudo relacionado a cinema.

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