Suzanne / Uma Relação Delicada
Abaixo
o Feminismo
A
julgar pelo conteúdo de duas recentes produções francesas lançadas no Festival
Varilux de Cinema Francês 2014, o feminismo anda em baixa no país da Nouvelle
Vague, afinal, tanto Suzanne (França,
2013) quanto Uma
Relação Delicada (França/Alemanha/Bélgica, 2012) se dedicam ao drama enfrentado por mulheres irritantemente deslumbradas
pelos machos alfas que as ladeiam.
No caso do primeiro título a
personagem principal é uma jovem mãe solteira que abandona tudo e todos, no que
se inclui o emprego e especialmente o filho pequeno, para seguir o amado, ao
passo que no segundo longa-metragem é uma mulher, desta vez, culta, madura e
bem sucedida que, fragilizada pela deficiência física que a acometera após um
acidente vascular cerebral, sucumbe ao charme rústico de um vigarista
emprenhado em extorqui-la.
Neste diapasão, a dependência
emocional dessas figuras para com os representantes do sexo masculino por vezes
beira a insanidade e a improbabilidade tamanha a insensatez com que agem. A
diferença entre elas, além da idade, reside no poder diferenciado que as duas
dispõem de contar com a conivência do público, visto que enquanto a Suzanne é
reservado todo tipo de julgamento moral dentro e fora da tela – dada a
irresponsabilidade com que finge exercer a maternidade – a hemiplégica da
segunda produção conta com certa dose de tolerância do espectador em razão de
seu quadro clínico e também porque suas loucuras não prejudicam ninguém além dela
própria, diferentemente de Suzanne que em virtude de suas equivocadas escolhas compromete
toda uma interação familiar – daí se tornar a mesma e, por conseguinte, o filme
difíceis de engolir.
Já Uma Relação Delicada, apesar de toda sua estranheza, se mostra um tanto
mais palatável de digerir graças sobretudo a presença de Isabelle
Huppert, uma atriz de inconteste talento que sem muito esforço colabora para
tornar crível a postura aparentemente superior, porém, na verdade, submissa de Maud,
a cineasta paralítica.
Com efeito, em meio aos erros e acertos
de cada filme, não há como definir com precisão se o aparente retrocesso feminino
neles projetado resulta de:
- uma mera provocação de Katell
Quillévéré, diretora de Suzanne
- ou de um ato de expiação/exorcismo de Catherine
Breillat, cineasta que filmara em Uma
Relação Delicada, sem qualquer indício de autopiedade, parte da história de
sua própria vida
- ou se, em contrapartida, reflete um atual parâmetro
comportamental feminino na França.
Em sendo preciso arriscar um palpite,
uma conclusão vem a mente: em terra de primeira dama traída, quem tem um homem é
rainha.
Ficha Técnica – Suzanne
Direção: Katell Quillévéré
Roteiro: Mariette Désert, Katell Quillévéré
Elenco: Sara Forestier, François
Damiens, Adèle Haenel, Paul Hamy, Anne Le Ny, Corinne Masiero, Lola Duenas, Karim Leklou
Duração: 94
min.
Ficha Técnica – Uma
Relação Delicada
Título Original: Abus de Faiblesse
Direção e Roteiro: Catherine
Breillat
Produção: Jean-François Lepetit
Elenco: Isabelle Huppert, Kool Shen, Laurence
Ursino, Christophe Sermet
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