Aqui
Práticas de Ontem, Êxito de Hoje, Esperança
de Amanhã
Atrelado a
Glauber Rocha, o lema “uma câmera na mão
e uma ideia na cabeça” resume com precisão a prática de um cinema de
guerrilha desprovido de recursos, mas com enorme disposição para a criação,
realidade essa que se estende para além da época do Cinema Novo, permanecendo
ainda hoje em voga como demonstram, por exemplo, as produções universitárias,
vertente do fazer fílmico de considerável importância seja para a descoberta de
novos talentos seja para a profissionalização de um ofício ainda bastante
calcado na troca de favores e na camaradagem.
Mediante
apoio ínfimo e sem verba alguma em caixa, Aqui,
uma realização dos alunos da primeira turma do curso de bacharelado em cinema e
audiovisual da Universidade Federal do Pará – UFPA, leva adiante a bandeira da
“câmera na mão...” e o faz de maneira
deveras honrosa, merecendo, assim, ser conhecida por um punhado de razões,
dentre as quais saltam aos olhos: a qualidade de seu roteiro, a criatividade de
seu visual e a eficiência de seu elenco – com especial destaque para o
desempenho de Bárbara Fig.
Isto posto,
cabe dizer que a reunião de tantos elementos eficazes poderia resultar
malsucedida e gerar um conjunto não harmonioso caso ausente o fator de
agregação e principal trunfo de Aqui:
o texto. De autoria do jovem Matheus Massias - única exceção, além do elenco,
ao grupo de estudantes de cinema responsável pela obra - o roteiro impressiona
pela maturidade com que de forma poética apresenta uma relação a dois definhada
pelo tempo e a conseqüente angústia de um de seus membros ante a memória dos
dias felizes e a iminência do fim que um futuro próximo reserva. Neste passo,
através do uso farto, embora não comprometedor, de narração em voz over as confissões e declarações
apaixonadas de uma mulher por seu amado são acompanhadas simultaneamente a sua
inquietude acerca da dependência física e psicológica nutrida por aquele.
Feita essa
descrição, uma comparação pode até ser firmada entre Aqui e o longa-metragem nacional mezzo-universitário mezzo-profissional
Apenas o Fim (Brasil, 2008) de
Matheus Souza, cujo enredo também explora a agonia, dessa vez, de um homem
prestes a ser abandonado pela garota que para ele tudo representa. Dentro deste
contexto, o que diferencia Aqui e Apenas o Fim – além da duração, por
óbvio – é o bom humor empregado pelo último em meio a inúmeras citações nerd. Em Aqui não há respiro cômico, mas apenas a melancolia, opção nesse
caso correta porque assim exigido pela narrativa, cujo único deslize cometido,
aliás, resulta do exagero com que são retratados os efeitos psicotrópicos de
uma espécie de fumo utilizado pela protagonista, sequência que, embora
equivocada, não diminui a grandeza de um curta-metragem que com pouco mais de
dez minutos consegue fazer aquilo que muitos levam horas para conseguir: a
anatomia de uma relação a dois.
FICHA TÉCNICA
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