Mistress America



À Sombra de Frances

Mistress America (EUA, 2015) em diversos momentos faz o espectador lembrar de Frances Ha (EUA, 2012). Isso ocorre não só por se tratar de novo projeto da dupla Noah Baumbach e Greta Gerwig, mas, principalmente, porque mais uma vez os conflitos da narrativa giram em torno da dificuldade que os adultos entre 30 e 40 anos enfrentam para se estabelecer profissional, emocional e economicamente. Entrementes, para estabelecer um mínimo possível de distanciamento entre as obras, Gerwig e Bawmbach adotam as seguintes medidas:
a) Divisão do protagonismo: Mistress America divide o protagonismo da personagem trintona interpretada por Gerwig com uma garota de 18 anos (a ótima Lola Kirke) recém-ingressada numa faculdade em Nova Iorque; neste sentido, embora a esta última seja dado considerável destaque, seus dramas soam prosaicos perante os da quase irmã mais velha, afinal, enquanto a primeira lida com dificuldades menores como uma ligeira decepção amorosa e a árdua tarefa de fazer novos amigos em um ambiente estranho, a segunda vê seu castelo de aparências ruir ante a falta de dinheiro e a desesperadora vontade de ter e de fazer algo significativo em meio a decepção advinda da constatação de que quanto mais rápido o tempo e a idade avançam, menores vão se tornando as chances de conseguir.Logo, por mais que os roteiristas tentem não há como ignorar: Mistress America tem como personagem principal uma mulher que já passara dos 30 anos em crise financeira tentando sem sucesso se firmar enquanto adulta independente e, supostamente, autossuficiente (Frances Ha?).
b) Mescla de estilos: em Frances Ha muitos viram forte influência de Woody Allen graças a toada verborrágica utilizada, opção essa mantida em Mistress America sem o mesmo êxito de antes porque pelo menos durante o primeiro terço de duração do filme considerável parte do falatório soa desinteressante, aparentando ser uma tentativa forçada e malsucedida de soar cool e cínico. Tal cenário recebe uma melhora substancial quando entra em cena um humor caótico que em muito bebe da fonte de Mulheres a Beira de um Ataque de Nervos (Espanha, 1988) dado o acúmulo de personagens num mesmo recinto em circunstâncias constrangedoras, simultâneas e por vezes surreais de tão debochadas que são. Já próximo ao término, contudo, a comédia rasgada cede espaço a um ritmo menos frenético, mais dramático e denso que rememoram os momentos de maior brilho do estilo sóbrio e melancólico de Baumbach visto em A Lula e a Baleia (EUA, 2005) e, como não poderia deixar de ser, Frances Ha.
Desta feita, Mistress America reúne assuntos usualmente explorados por seu diretor numa embalagem que também emula Woody Allen e Pedro Almodóvar. Da junção desses três estilos surge uma obra com dificuldade de impor uma identidade própria, o que é conseqüência em parte de um roteiro que, apesar de alguns bons instantes, entrega uma história carente de ineditismo, daí a previsibilidade vez por outra dar as caras de maneira incômoda.
Ao que parece Gerwig e Bawmbach criaram para si um monstro chamado Frances Ha, cuja sombra está sempre à espreita sussurrando que sua qualidade é difícil de ser alcançada. Será?
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1.Leia mais sobre Frances Ha em http://www.setimacritica.blogspot.com.br/2013/11/frances-ha.html.

FICHA TÉCNICA

Direção: Noah Baumbach
Roteiro: Greta Gerwig, Noah Baumbach
Elenco: Andrea Chen, Charlie Gillette, Cindy Cheung, Greta Gerwig, Heather Lind, Jasmine Cephas Jones, Joel Marsh Garland, Juliet Brett, Kathryn Erbe, Lola Kirke, Michael Chernus, Rebecca Henderson, Rebecca Naomi Jones, Seth Barrish, Shana Dowdeswell
Produção: Lila Yacoub, Noah Baumbach, Rodrigo Teixeira
Fotografia: Sam Levy
Montagem: Jennifer Lame
Trilha Sonora: Britta Phillips, Dean Wareham
Estreia: 14.08.15                 Estreia Brasil: 19/11/2015
Duração: 84 min.

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