Meu Rei
Ontem
Melhor que Hoje
Não faltam exemplos de radiografias
do matrimônio feitas pelo cinema. De Namorados
Para Sempre (EUA, 2011) até o principal título desse filão e clássico
absoluto Cenas
de um Casamento¹ (Suécia, 1973), a
sétima arte é povoada por casais e seus altos e baixos. Maïwenn Le Besco,
diretora de Meu Rei (França, 2015),
sabe disso e, não a toa, arrisca dar passos que diferenciem seu trabalho nesse
contexto.
Para tanto, a cineasta se vale de
uma narrativa paralela que trata do passado e do presente. Nos dias de hoje Tony
busca a recuperação física para sérios danos no joelho oriundos de
um acidente sofrido enquanto esquiava. Isolada numa espécie de resort a mulher
aproveita para lembrar os traumas e dores de ontem oriundos do relacionamento doentio
mantido com o agora ex-marido. Neste particular, uma sequência é bastante
representativa, qual seja aquela em que a protagonista é consultada por uma
psicóloga e ri da relação que a profissional faz entre o joelho quebrado e o
estado de espírito/mental da acidentada. Por mais forçada que a comparação
possa soar é exatamente isso que Maïwenn quer
apresentar: uma metáfora.
As agruras corporais sofridas hoje
nada mais são que efeitos dos anos de abuso psicológico enfrentados pela
personagem feminina. Neste diapasão, a estranheza do amor retratado e da atual
realidade vivida pela protagonista em meio a outros acidentados traz à
lembrança o espetacular Ferrugem e Osso²;
lamentavelmente, porém, Meu Rei não alcança
notas tão altas como aquele, o que é resultado do grau diverso de eficiência e de interesse
despertados por cada uma de suas tramas paralelas.
Explique-se: as dificuldades
enfrentadas por Tony para recuperar a plenitude física pouco acrescentam além
da metáfora pretendida. Tal considerável fração da narrativa se mostra,
portanto, dispensável, o que, há de se convir, é um problemas sério se lembrado
for que este deveria ser o fator diferencial da narrativa que, carente de
ineditismo, acaba salva da pelo talentoso elenco, no que se destacam Vincent
Cassel ora divertido ora sedutor ora assustador e Louis Garrel saindo da zona
de conforto num papel coadjuvante que nada possui de galanteador e que funciona
como alívio cômico para a trama, por mais estapafúrdio que isso possa parecer.
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1. Cabe a ressalva de que Cenas de um Casamento foi primeiramente lançado como série de
televisão sendo posteriormente editado para o cinema. Leia mais sobre o filme
em http://setimacritica.blogspot.com.br/2012/04/separacaocenas-de-um-casamento.html.
2. Leia mais sobre Ferrugem
e Osso em
http://setimacritica.blogspot.com.br/2013/10/ferrugem-e-osso.html.
Ficha Técnica
Título Original: Mon
Roi
Direção: Maïwenn
Produção: Alain
Attal
Roteiro: Etienne
Comar, Maïwenn
Elenco: Vincent Cassel, Camille Cottin, Emmanuelle Bercot,
Félix Bossuet, Isild Le Besco, Louis Garrel, Ludovic Berthillot, Romain
Sandère, Vincent Nemeth
Fotografia:
Claire Mathon
Montagem:
Simon Jacquet
Trilha
Sonora: Stephen Warbeck
Estreia:
25/08/2016 (Brasil)
Duração:
124 min.
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