Branca Como a Neve
Balanço
Inadequado
Anne
Fontaine e Lou de Laâge já haviam trabalhado juntas no excelente Agnus
Dei (França/Polônia, 2016), produção marcada pelo
desempenho igualmente superlativo da atriz. Em Branca Como a Neve (França,
2019) a parceria é retomada com o acréscimo da participação de Isabelle
Huppert, estrela com quem a cineasta já havia trabalhado antes na comédia Meu
Pior Pesadelo (França, 2011). Em conjunto, o trio entrega uma versão
atualizada de Branca de Neve, conto de fadas originalmente compilado pelos
irmãos Grimm, o que faz por intermédio de um roteiro que acaba preso a
armadilhas do formato.
Neste
sentido, tudo aquilo que gira em torno da mocinha Claire (Lou de Laâge) resulta
mais interessante do que a abordagem da bruxa má (Isabelle Huppert), afinal, enquanto
de um lado tem-se a figura da vilã imersa em clichês e soluções fracas e
estapafúrdias, de outro lado, em contrapartida, vê-se uma jovem que pela via do
acaso descobre o prazer, dedicando-se, então, a uma libertadora exploração da
própria sexualidade, visto que não restrita a um só parceiro, aspecto esse em
que o filme não se prende a pudores nem se deixa contaminar por eventuais
pensamentos machistas acerca do comportamento da protagonista - como bem
exemplifica a cena em que um padre orienta a garota a seguir fazendo aquilo que
lhe dá felicidade.
Essa
disparidade de valor entre as personagens denota a inconsistência de uma obra que
sabe utilizar-se muito bem de todas as fugas do texto no qual se baseia, mas
que anda com dificuldades toda vez que retorna a tal material que, aliás, acaba
servindo de inspiração para a conclusão da narrativa. Talvez por carência de
ideias capazes de finalizar de maneira realista a história, como de fato é tratada
a trajetória de Claire, Branca Como a
Neve recorre ao tom fantasioso para, de modo insatisfatório, encerrar a
trama – isso porque, embora apresente uma esperta piada envolvendo a troca do
beijo do princípio encantado pela companhia de sete homens (anões) bobos e
apaixonados, não é possível ignorar a falta de desfecho concernente ao papel da
vilã que abandonada pelo longa-metragem parece seguir impune.
Destarte,
resta inevitável a compreensão de que o balanço inadequado entre realidade e fantasia
prejudica o título que, assim, mostra-se indeciso entre mergulhar fundo em uma
adaptação de considerável conotação feminista ou permanecer conectado as
convenções do enredo original.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Blanche Comme Neige
Direção e Roteiro Adaptado: Anne Fontaine
Produção: Eric Altmayer, Nicolas Altmayer,
Philippe Carcassonne
Elenco: Benoît Poelvoorde, Charles
Berling, Damien Bonnard, Isabelle Huppert, John Sehil, Jonathan Cohen, Lou de
Laâge, Pablo Pauly, Richard Fréchette, Vincent Macaigne
Fotografia: Yves Angelo
Trilha Sonora: Bruno Coulais
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