A Rede Social
A Mais Nova Obra Superlativa de David Fincher
Você percebe que está diante de um grande filme quando a vontade de consultar o relógio não surge ou quando, ao contrário, aparece já próxima ao término da projeção; desejo esse que acaba sumariamente descartado por ser impossível desviar os olhos da tela.
A Rede Social (EUA, 2010) constitui um desses raros casos graças a diversos e excelentes fatores como: o elenco afiado, os diálogos ágeis, a montagem inteligente e a direção primorosa de David Fincher que, mais uma vez, demonstra o excepcional contador de histórias que é.
Dentro deste contexto, logo quando anunciado, o projeto de adaptação do livro "Bilionários por Acaso", de Ben Mezrich soava tão estranho quanto hoje soa, por exemplo, a intenção de Ridley Scott em filmar um roteiro inspirado pelo jogo Banco Imobiliário; mas, eis que Fincher contrariou todas as expectativas negativas ao criar um produto de entretenimento para gente grande extremamente interessante e atual. Para tanto, o cineasta esclarece desde a primeira sequência que seu protagonista Mark Zuckerberg não é pessoa das mais agradáveis, desincumbindo-se, assim, do fardo que seria defender alguém com tanta habilidade para ignorar valores como ética e moral.
Neste passo, Fincher adota tal postura sem qualquer ranço maniqueísta, deixando, portanto, para o espectador a opção de compartilhar das motivações do inteligente, controverso e sarcástico “criador” do Facebook ou, em hipótese diversa, repudiar a infidelidade do mesmo para com o amigo e sócio Eduardo Saverin, a canalhice escancarada quando da apropriação indevida da idéia-mote do site de relacionamentos ou, ainda, sua ausência de cavalheirismo no trato com as mulheres.
Oferecer ao público um leque tão vasto de opções fora, por certo, uma brilhante decisão do cineasta, uma vez que tal “estratégia” lhe garantiu o louvável êxito de levar-nos a experimentar cada uma das sensações outrora mencionadas, gerando, por conseguinte, um misto de sentimentos eficaz o bastante para evitar o caminho da partidarização de opiniões.
Envolvente e arrebatador A Rede Social configura o retrato de “alguém desprovido de tato social que, ironicamente, criou a maior ferramenta de interação da história”¹, sendo, ainda, um relato acerca dos limites e barreiras quebrados por um homem quando movido pela ganância - bem como por uma homérica dor de cotovelo. David Fincher, desta feita, maneja elementos complexos que, em contrapartida, não lhe impedem de entregar um filme simples, mas igualmente denso cujo lançamento ajuda a salvar um ano que, convenhamos, pouca colaboração prestou ao aprimoramento da sétima arte.
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1. Roberto Sadovski in Revista Set. Ano 23. Ed. 271. São Paulo: Aver, Novembro de 2010. p. 71.
COTAÇÃO - ☼☼☼☼
Ficha Técnica
Título Original: The Social Network
Direção: David Fincher
Roteiro: Aaron Sorkin
Produção: Dana Brunetti, Ceán Chaffin, Michael De Luca e Scott Rudin
Produção Executiva: Kevin Spacey
Elenco: Dakota Johnson (Leslie Brown)Jesse Eisenberg (Mark Zuckerberg)Armie Hammer (Cameron Winklevoss) Rooney Mara (Erica Albright)Max Minghella (Martin Turner)Justin Timberlake (Sean Parker)Brenda Song (Joanna Simmons)Trevor Wright (Josh Thompson)Joseph Mazzello (Dustin Moskovitz) Andrew Garfield (Eduardo Saverin)
Música: Trent Reznor
Fotografia: Jeff Cronenweth
Direção de Arte: Curt Beech e Keith P. Cunningham
Figurino: Curt Beech e Keith P. Cunningham
Edição: Kirk Baxter e Angus Wall
Estreia no Brasil: 3 de Dezembro de 2010
Duração: 120 minutos
Curiosidades:
A atriz Rooney Mara fora escalada por David Fincher para encarnar a hacker Lisbeth Salander, protagonista feminina da trilogia literária Millenium cujo primeiro capítulo Os Homens que Não Amavam as Mulheres já fora adaptado pelo cinema sueco e agora ganhará remake pelas mãos do diretor.
Apesar dos gêmeos Tyler e Cameron Winklevos serem ambos interpretados pelo ator Armie Hemmer, o corpo de Tyler pertence a outro intérprete chamado Josh Pence. Efeitos especiais se encarregaram, portanto, de inserir a cabeça do primeiro ator no corpo do segundo.
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