Solitary Man

Sim, este é o filme cujo título recebera em nosso país a infeliz e oportunista tradução O Solteirão (EUA, 2010). Buscando pegar carona na carrada de comédias bobocas que a cada semana aterrisam nos cinemas, bem como no sucesso do esperto e sexy seriado Californication, Solitary Man acabou vítima de uma insana estratégia brasileira de divulgação que, se por um lado, arrisca o pescoço do produto ao criar falsas expectativas perante espectadores ansiosos por alguma das hipóteses supracitadas, em contrapartida, pode surpreender de forma deveras positiva àqueles que não se incomodarem em seres pegos, no contrapé, com a revelação da real natureza da obra, qual seja um drama adulto, protagonizado por um personagem errante, mas que poderia – sem exageros – ser confundido com qualquer ser que se equivoca.
Dentro deste contexto, o público é apresentado a Ben Kalmen (Michael Douglas), homem que no passado desfrutara de um sólido matrimônio e de um bem sucedido negócio, mas que hoje, já devidamente divorciado, não consegue espaço para voltar a atuar no ramo empresarial após o cumprimento de uma condenação judicial fruto da prática de estelionato. Como se os atuais desajustes de suas vidas pessoal e profissional não fossem suficientes, Kalmen padece de verdadeira compulsão pelo sexo descompromissado, o que, além de tirar-lhe a compenetração necessária ao processo de superação das crises, se mostra como ineficaz válvula de escape, eis que, não raro, potencializa as encrencas do personagem ao invés de, como pretendido, servir de massagem para o ego em meio a uma corrida diária contra o tempo, a idade e os percalços do cotidiano.
Solitary Man é um filme modesto – apesar de produzido pelo onipresente Steven Soderbergh. Assisti-lo, porém, gera a impressão de que, graças a pequenez da produção, os diretores Brian Koppelman e David Levian puderam gozar da liberdade necessária a composição de um trabalho comprometido com a história e com os personagens, daí porque concessões formulaicas não são aqui tomadas para tornar este um longa-metragem sobre regeneração. Não, o que interessa para os cineastas é, sem cair na tentação de tecer julgamentos, indicar quantos tropeços alguém é capaz de dar quando o afã de viver intensamente duela com a conscientização e o medo da finitude que se aproxima.
Michael Douglas, neste diapasão, agrega total credibilidade ao filme, mostrando-se, desta feita, bastante a vontade na pele do galã sessentão que, apesar de ciente das burradas cometidas, resiste instintivamente quando o assunto é a correção dos erros. Isto posto, o final em aberto com seu plano médio projetando a imagem de alguém que, mesmo desprovido de uma variedade de opções, hesita entre a estagnação e a mudança, constitui uma das mais emblemáticas cenas já filmadas dentre as produções lançadas neste ano letivo.
Por isso tudo, Solitary Man – não obstante o horroroso título tupiniquim – há de ser conferido sem medo, afinal esta é uma realização que pode não mudar o mundo, mas que, na condição de pequena grande surpresa, oferece gás à cinefilia de cada apaixonado pela sétima arte.

Ficha Técnica
Direção: Brian Koppelman e David Levian
Roteiro: Brian Koppelman
Elenco: Jesse Eisenberg (Daniel Cheston)Imogen Poots (Allyson Karsch)Susan Sarandon (Nancy Kalmen)Jenna Fischer (Susan Porter) Arthur J. Nascarella (Nascarella)Bruce Altman (Dr. Steinberg)David Costabile (Gary Porter )Michael Douglas (Ben Kalmen)Doug McGrath (Dean Edward)Sean Patrick Reilly (Shadow)Danny DeVito (Jimmy Merino)James Colby (Sgt. John Haverford)Ben Shenkman (Pete Hartofilias)Richard Schiff (Steve Heller)Ricky (I) Garcia (Waiter)Lenny Venito (Todd)Anastasia Griffith (Carol Solomonde)Alex Kaluzhsky (Ted Loof) James Thomas Bligh ( Bob )Mary-Louise Parker (Jordan Karsch)
Fotografia: Alwin Küchler
Trilha Sonora: Clint Mansell, Michael Penn
Estreia no Brasil: 22 de Outubro de 2010
Duração: 90 min.

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