Os Miseráveis
Colossal
e Equivocado
Tal como o western, o musical é um gênero americano
por excelência, o que não quer dizer, entretanto, que Hollywood já tenha conseguido
engendrar uma fórmula infalível para seu sucesso, isso porque a produção musical
comumente se configura ou como um acerto absoluto – vide os casos de West Side Story, My Fair Lady, Singin’ in
the Rain e Hair – ou como um
inconteste equívoco, categoria essa na qual se enquadra Os Miseráveis (EUA, 2012).
Todavia, para a análise não soar injusta, uma coisa
há de ser logo reconhecida: a adaptação dirigida por Tom Hooper é um colosso em
quesitos técnicos como fotografia, direção de arte e figurino, o que, por
óbvio, gera a seguinte pergunta: quais então são os problemas do
longa-metragem? Vejamos:
Considerando que o produto fílmico precisa a todo
instante contar com a tolerância do público perante figuras serelepes que, ao
invés de falar, cantam e, não raro, dançam, criar um musical para o cinema,
cuja linguagem tanto busca funcionar como expressão da realidade, é uma tarefa
árdua. Por conta dessa peculiaridade, as narrativas desse gênero precisam ser
fluídas e hábeis o bastante para evitar que a experiência do espectador se
torne enfadonha, requisito esse certamente não preenchido por Os Miseráveis.
Dito isso, ao longo de suas quase três horas de
duração o filme se revela massacrante a quem o assiste, tendo em vista que seu
roteiro fraqueja justamente no processo de articulação da trama e de
distribuição da relevância entre os personagens. Assim, quem mais sofre
desvantagem, nesse sentido, é o protagonista Jean Valjean que praticamente deixa
de ser o polo central ao redor do qual gravitam os demais seres criados por
Victor Hugo – tal como visto na outra e ótima versão cinematográfica homônima capitaneada,
em 1995, por Claude Lelouch e estrelada por Jean-Paul Belmondo – daí que, não a
toa, é possível perceber que o filme clama por mais tempo de tela para um
surpreendente Hugh Jackman e, sobretudo, para a excelente Anne Hathaway, afinal, são eles os responsáveis pelos escassos
momentos interessantes do longa-metragem, na medida em que driblam o excesso e,
desse modo, avançam para muito além da superfície em seus papeis, êxito esse não
repetido, por exemplo, pelos casais Eddie Redmayne e Amanda Seyfried – que
colaboram para elevar a enésima potência a pieguice presente em muitos momentos
da produção – e Sacha Baron Cohen e Helena Bonham Carter – a quem são relegadas
as partes mais constrangedoras da obra.
Um colosso
técnico pontuado pelos arrebatadores desempenhos de Hugh Jackman e Anne Hathaway, mas que também se mostra
piegas, constrangedor e enfadonho. Assim é Os Miseráveis, um título que não teme
o excesso e que, por isso, tanto divide as opiniões a seu respeito.
FICHA TÉCNICA
Título
Original: Les Miserables
Direção: Tom Hooper
Produção: Eric Fellner, Debra Hayward, Cameron
Mackintosh
Roteiro: William Nicholson, baseado na obra de
Victor Hugo
Elenco: Sacha Baron Cohen, Helena Bonham Carter, Anne Hathaway, Amanda
Seyfried, Hugh Jackman, Russell Crowe, Eddie Redmayne, Samantha Barks, Aaron
Tveit, Colm Wilkinson, Ella Hunt, George Blagden, Daniel Huttlestone, Bertie
Carvel, Isabelle Allen, Frances Ruffelle, Alistair Brammer, Evie Wray, Kerry
Ellis, Tim Downie, Killian Donnelly, Alexander Brooks, Fra Fee, Sophie Ellis,
Jean-Marc Chautems, Jonny Purchase, Lily Laight, Linzi Hateley, Scott
Stevenson, Nathanjohn Carter, Dick Ward, Nancy Sullivan, Gabriel Vick,
Catherine Woolston, Jaygann Ayeh, Paul Leonard, Gino Picciano, Olivia Rose
Aaron, Jackie Marks, Julia Worsley, AlisonTennant, Josh Wichard, Sara Pelosi,
Henry Monk, Adebayo Bolaji, Sammy Harris, Adam Nowell, Rosa O'Reilly, Stevee
Davies, Robyn North, James Charlton, Alice Fearn, Kelly-Anne Gower, Iwan Lewis,
Jos Slovick, Richard Dalton, Matt Harrop, Mary Cormack, Gary Bland, Adam Pearce
Fotografia: Danny Cohen Trilha Sonora:
Claude-Michel Schönberg
Estreia no Brasil: 01.02. 2013 Estreia
Mundial: 07.12.2012
Duração: 157 min.
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