Um Verão Escaldante
Uma Fria
Escaldante é algo que o filme Um Verão Escaldante (Itália/ França/ Suíça, 2011) definitivamente
não é. Fria, a direção de Philippe Garrel mantém-se deliberadamente distante
dos personagens, evitando, assim, qualquer relação mais íntima com estes, o que
acaba fazendo as insatisfações e incertezas dos casais que protagonizam a trama
soarem vazias, quando não descabidas. Não à toa, portanto, o ar blasé de Louis Garrel se confunde com a
própria apatia da narrativa que, embora manifeste certa preocupação em criar um
arco dramático coerente, resulta incompleta porque não comprometida com as
emoções mencionadas¹-².
Não bastassem os problemas apontados, o roteiro
insiste em um viés político que nada acrescenta porque calcado em ideias que
soam espantosamente ultrapassadas. Neste diapasão, o antigo governo de Nicolas Sarkozy, na
França, acarreta para alguns personagens desejos de ‘revolução’ como se o mundo
ainda pudesse ser didatica e geograficamente dividido em dois lados: o bom –
ingenuamente compreendido como a fração comunista da Terra – e o mal –
visualizado na figura dos capitalistas ou, melhor dizendo, dos execráveis ‘burgueses’.
Por último, um desfecho por
demais exagerado faz com que a experiência de assistir a obra se caracterize
como um desperdício de tempo e o filme em si como um exemplo de emprego errôneo
de dinheiro, ideias e talentos – afinal, além de M. Bellucci o elenco ainda
conta com a ótima Céline Sallette, vista recentemente no
excelente L’Apollonide – Os Amores da
Casa de Tolerância.
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1.Segundo
Rogério de Moraes: “Cria-se aqui uma grande barreira entre filme e espectador,
para quem resta a observação à distância. É dessa mesma forma que o diretor nos
mantém em relação a seu filme, criando um vácuo entre sentimentos e público,
impedindo qualquer empatia com os dramas retratados. Um efeito proposital,
pensado, mas que aliado a uma trama de conflitos escassos recai na monotonia,
tornando-se irregular. [...]O filme de Philippe Garret propõe um exercício de observar
sem sentir. E, de fato, o sentimento nunca chega até nós. Sem experimentá-lo,
também nos afastamos e acabamos por ter uma experiência vazia. O mesmo vácuo
emocional que os personagens tanto temem, mas nem sempre evitam” (FONTE: http://www.cineclick.com.br/criticas/ficha/filme/um-verao-escaldante/id/2960).
2. Dentro deste contexto, por mais incrível que
possa parecer, até mesmo a presença de uma já madura Monica Bellucci não serve
para, conforme em outros longas metragens estrelados pela atriz, agregar calor
ao enredo.
FICHA TÉCNICA
Título Original: Un été Brûlant
Direção: Philippe Garrel
Produção: Edouard Weil
Roteiro: Marc Cholodenko, Caroline Deruas-Garrel,
Philippe Garrel
Elenco: Monica
Bellucci, Louis Garrel, Céline Sallette, Jérôme Robart, Vladislav Galard,
Vincent Macaigne, Maurice Garrel
Fotografia: Willy Kurant Trilha Sonora: John
Cale
Duração: 95 min.
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