O Som ao Redor
Estado
Violência
Intrigante é um adjetivo que bem
se adequa a O Som ao Redor (Brasil,
2012). Em sua estreia na direção de longas Kleber Mendonça Filho assina uma
história que não se encaixa no formato clássico da narrativa fílmica, tendo em
vista, sobretudo, a importância dada ao tempo morto em sua mise-en-scène, o que não quer dizer, porém, que o filme se preste a
assumir uma toada contemplativa e/ou silenciosa nos moldes firmados por
Antonioni e Bergman, por exemplo.
Na verdade O Som ao Redor se vale de um caprichado trabalho de montagem para arquitetar num crescendo a sensação de que uma tragédia está prestes a ocorrer, o que, frise-se, visa não criar espaço para um clímax cinematográfico – até porque seu desfecho, tal qual a vida real, é deliberadamente anticlimático – e sim lembrar o público da ininterrupta sensação de insegurança experimentada pela classe média brasileira para a qual a obra tanto volta seu olhar. Por seu turno, como o próprio título sugere, a banda sonora possui papel de destaque na medida em que, através de ruídos diversos, invade os lares e cotidianos dos personagens como que a ‘ilustrar’ o medo que não mais é barrado pelas grades e portões das casas e prédios.
Na verdade O Som ao Redor se vale de um caprichado trabalho de montagem para arquitetar num crescendo a sensação de que uma tragédia está prestes a ocorrer, o que, frise-se, visa não criar espaço para um clímax cinematográfico – até porque seu desfecho, tal qual a vida real, é deliberadamente anticlimático – e sim lembrar o público da ininterrupta sensação de insegurança experimentada pela classe média brasileira para a qual a obra tanto volta seu olhar. Por seu turno, como o próprio título sugere, a banda sonora possui papel de destaque na medida em que, através de ruídos diversos, invade os lares e cotidianos dos personagens como que a ‘ilustrar’ o medo que não mais é barrado pelas grades e portões das casas e prédios.
Uma vez esclarecido que a
distinção de classes de nossa sociedade é fruto de um processo opressor de
colonização, o drama direciona seu foco, como já dito, sobre a tão pouco
filmada classe média e o faz de uma maneira singular porque praticamente palpável.
Neste sentido, em locações pouco adulteradas pela direção de arte, Mendonça Filho
espreita de modo quase documental o modo de falar e interagir das pessoas entre
seus pares e subordinados e é justamente por abordar de maneira tão franca uma
parcela da nação no que tange a instabilidade de seus relacionamentos, seu
habitat, comportamento e temores que a realização soa tão cúmplice¹ e também
tão incômoda, afinal, como qualquer brasileiro bem sabe, estamos
constantemente a mercê de inimagináveis infortúnios advindos do Estado violência
no qual vivemos.
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1. Em compreensão semelhante Roberto Guerra afirma: “O filme mantém-se sustentado em
pequenos acontecimentos mundanos, que se revelam ainda mais inquietantes do que
aqueles vistos numa trama comum movida à ação e reação. A vida desses
personagens, sua atitudes e também apatias e tédios diante das próprias
existências são os responsáveis pela dinâmica asfixiante deste filme, por que
não dizer, de horror. E o assustador e temerário aqui está na familiaridade que
O
Som ao Redor desperta na
gente” (FONTE: http://www.cineclick.com.br/criticas/ficha/filme/o-som-ao-redor/id/3112.
Acesso em 21.02.12).
Direção e
Roteiro: Kleber
Mendonça Filho
Produção: Emilie Lesclaux
Elenco: Irma Brown, Sebastião Formiga,
Gustavo Jahn, Maeve Jinkings, Irandhir Santos, W. J. Solha, Lula Terra,
Irandhir Santos, Waldemar José Solha, Yuri Holanda, Clébia Souza, Maria Luiza
Tavares
Fotografia: Pedro Sotero Trilha Sonora:
DJ Dolores
Estreia: 04.01.13
Duração: 131 min.
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