Apenas o Fim
Implacável Achatamento da Emoção Pela Razão
Rapaz é surpreendido pela namorada com a notícia de que terão sua última hora de convívio, visto que ela decidira, enfim, viajar, fugir, partir em busca de novos horizontes.
Tomando por base um argumento extremamente simples, Apenas o Fim (Brasil, 2009) entrega um delicado panorama de uma geração, mergulhando, para tanto, num oceano de referências pop que, trazendo à tona ecos de Woody Allen, Richard Linklater e Nick Hornby, atinge louvável grau de identificação perante seu público alvo, qual seja os recém entrados na fase adulta, como também perante membros das demais gerações que, mesmo correndo o risco de não compreenderem todas as irônicas conclusões do protagonista, podem, dada a universalidade do tema, rememorar suas próprias desilusões amorosas uma vez inspirados por aquela retratada no filme.
Dentro deste contexto, em certa passagem o personagem Tom - brilhantemente interpretado por Gregório Duvivier - revela o quanto ficara vulnerável, frágil nas diversas vezes em que sua amada evitara atender seus telefonemas. Neste passo, apesar de não aparentar qualquer importância suprema quando assim descrita, tal sequência, justamente por dispor de uma muito provável conexão com as experiências colecionadas por cada espectador, exemplifica como fora composto o mosaico de confissões, questionamentos e divagações no qual se constitui este sincero relato sobre um término de relação deveras civilizado e, por certo, mais doloroso, face o implacável achatamento da emoção pela razão.
Isto posto, impressiona a eficiência do diretor Matheus Souza que, apesar dos meros dezenove anos de idade, esbanja maturidade e, sobretudo, honestidade ao filmar de maneira concisa, objetiva e sensível. Não obstante a demonstração de certa ingenuidade quando da adoção de um tom caricato como elemento definidor de determinados nichos, Souza realiza o tipo de trabalho que todo aspirante a cineasta gostaria de executar, eis que deliciosamente metalingüístico no que atine a fusão de ficção e realidade autobiográfica, hábil quanto a capacidade imediata de conquista da empatia dos espectadores e, em última análise, competente quanto a não intencional missão de ressuscitamento do, hoje um tanto quanto esquecido, lema “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”, o que, vale frisar, não é pouca coisa.
COTAÇÃO - ☼☼☼☼☼
Ficha Técnica
Direção e Roteiro: Matheus Souza
Produção: Julia Ramil, Mariza Leão
Elenco: Anna Sophia Floch Nathalia Dill Julia Gorman Marcelo Adnet Gregório Duvivier Érika Mader Álamo Facó
Música: Pedro Carneiro
Direção de arte: Gabriel Cabral Julia Garcia
Fotografia e Edição: Julio Secchin
Estreia no Brasil: 12 de Junho de 2009
Duração: 80 minutos
Curiosidades:
“Apenas o Fim é o resultado de um projeto de alunos do curso de Cinema da PUC-Rio, contando com o apoio do Departamento de Comunicação Social da faculdade. (...)
É o 2º filme em que Erika Mader e Gregório Duvivier atuam juntos. O anterior foi Podecrer! (2007)”. FONTE: http://www.adorocinema.com/filmes/apenas-o-fim/noticias-e-curiosidades/.
A produção recebeu o prêmio de Melhor Filme do Júri Popular além da Menção Honrosa do Júri Oficial no Festival do Rio 2008, bem como o Prêmio de Melhor Filme do Júri Popular na 32ª Mostra de São Paulo.
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