Biutiful


As Desgraças de Iñárritu

             Na sequência final de Gladiador (EUA, 2000) o general Maximus Decimus Meridius consegue alcançar um objetivo maior do que a própria vingança por ele perpetrada: reencontrar, já em outro plano, a mulher e o filho outrora assassinados. Ideia semelhante conduz a narrativa de Biutiful (Espanha, 2010), qual seja o encontro do protagonista Uxbal (Javier Barden) com o pai falecido há décadas. Ambos os filmes, portanto, comungam em suas conclusões de um pensamento confortável a quem já sofreu uma perda: passar pelo inevitável rito de transição com a ajuda de pessoas amadas que não mais estão entre nós. Enquanto Ridley Scott chega a tal término pela via do épico pulsante, a obra de Alejandro González Iñárritu limita o ar poético para as cenas de abertura e de encerramento, preferindo desenvolver-se mediante uma narrativa crua e de composição estética propositalmente decadente. Neste passo, uma vez que a história principal de seu filme assim permitia, Iñárritu perde a oportunidade de trabalhar com mais leveza e poesia para insistir com seu olhar trágico e pessimista sobre o homem. Não que o mundo em que vivemos seja um mar de rosas, porém, a recorrência com que o diretor espanhol explora o prisma da mazela, da desesperança retira de Biutiful a dose de espontaneidade que tão bem lhe cairia, tarimbando o espectador para qualquer excesso que porventura surja.

Ficha Técnica
Roteiro: Alejandro González Iñárritu, Armando Bo e Nicolás Giacobon
Produção: Alejandro González Iñárritu, Jon Kilik e Fernando Bovaira
Elenco: Luo Jin (Liwei) George Chibuikwem Chukwuma (Samuel) Lang Lin Sofia (Li) Blanca Portillo Javier Bardem (Uxbal) Hanaa Bouchaib (Maramba)Guillermo Estrella (Mateo) Cheikh Ndiaye (Ekweme) Diaryatou Daff (Ige) Maricel Álvarez (Maramba) Rubén Ochandiano (Zanc)Eduard Fernández (Tito)
Música: Gustavo Santaolalla
Fotografia: Rodrigo Prieto
Direção de Arte: Marina Pozanco
Figurino: Bina Daigeler e Paco Delgado
Edição: Stephen Mirrione
Estreia no Brasil: 21 de Janeiro de 2011
Duração: 137 min

Comentários

  1. Quero muito conferir, adoro Inarritu e Javier Bardem. Os dois juntos deve ser demais!

    http://cinelupinha.blogspot.com/

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  2. Impecável sua análise sobre este que é de fato o maior problema de BIUTIFUL: a abordagem pesadíssima do tema, sem espaço para sutilezas. Em função disso, toda a parte técnica funciona: seja a fotografia mórbida de Prieto ou a música dissonante de Santaolalla, além da direção de arte que afunda tudo em tristeza e decadência. Mas o cineasta falta com o roteiro, e, agora sem Arriaga, intenciona, mas não consegue trabalhar com histórias paralelas (ainda que Uxbal seja o protagonista evidente). 5/10

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