Homens e Deuses
Contundentes Passos de Cágado
Homens e Deuses (França, 2010) definitivamente não é um filme de fácil degustação. Não
que a obra se mostre hermética, afinal a dificuldade reside exclusivamente na
lentidão de seu ritmo. Também pudera, o longa-metragem acompanha a rotina de
monges em um monastério localizado em território da Argélia abalado por
conflitos, leia-se, extermínios comandados por fundamentalistas islâmicos;
logo, a toada, em respeito a memória e ao modo como de fato viviam os homens
que encarnaram esta história verídica, não haveria de ser alterada em nome da
obediência a padrões cinematográficos consolidados.
Assim, o dilema dos monges
– fugir do lugar onde correm risco de morte ou permanecer ali ao lado de seu
rebanho – é construído de maneira paulatina, não deixando brecha para
superficialidades – daí os cortes serem sempre precisos de modo a evitar que a
tensão dos personagens se confunda com sentimentalismos baratos. Some-se a isso
a acertada opção do diretor Xavier Beauvois ao dispensar a piedade da platéia para
com os seres retratados, conduta essa que, frise-se, constitui o grande trunfo
do drama, eis que, desta feita, os freis não são apresentados nem como heróis
nem como pobres vítimas, mas sim como seres falhos que também se permitem
titubear e questionar não só o valor de suas missões como também a própria
força de suas crenças – aspecto esse para o qual se mostra de grande responsabilidade
pelo êxito das intenções pretendidas, o estupendo trabalho dos atores
responsáveis pelo núcleo dos monges, eis que sem muitas palavras nem muitos
gestos todos são eficientes quanto a tarefa de exprimir o medo e a dúvida incrustados
no cotidiano dos personagens.
Por trás do obstáculo da
narrativa arrastada, Homens e Deuses entrega
uma relevante análise sobre a intolerância religiosa, bem como sobre a
capacidade de superação da fé perante a essência selvagem que trazemos em
nossos íntimos. Eis, portanto, um valioso exercício de reflexão.
COTAÇÃO – ۞۞۞۞
Ficha Técnica
Título Original: Des Hommes et des Dieux
Direção: Xavier
Beauvois
Roteiro: Etienne
Comar, Xavier Beauvois
Produção: Pascal Caucheteaux
e Etienne Comar
Elenco:Michael Lonsdale (Luc)Loïc Pichon (Jean-Pierre)Lambert Wilson (Christian)Philippe Laudenbach (Célestin)Olivier Rabourdin (Christophe)Xavier Maly (Michel)Jacques Herlin (Amédée)Jean-Marie Frin (Paul)
Fotografia: Caroline Champetier
Edição: Marie-Julie Maille
Estreia no Brasil: 15 de Abril de 2011
Duração: 122
minutos
Grande Cena: a última ceia dos monges realizada ao som da
música de Tchaikovsky/O Lago dos Cisnes.
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