Vou Rifar Meu Coração
Desconexo
Uma palavra resume Vou Rifar Meu Coração (Brasil, 2012):
desconexo. O trabalho de Ana Rieper, neste sentido, falha de modo inconteste ao não
concatenar a relação a que se propunha, qual seja o contexto de muitas das
histórias contadas na música brega em meio a realidade de sentimentos
experimentada tanto pelo grande público quanto por artistas não representativos
de uma elite.
Desse modo, depoimentos de músicos
pouco se conectam as falas de populares, o que ilustra em última instância o abismo entre a
pretensão existente e o resultado obtido. Não fosse o bastante, a forma
ineficaz com que a música é utilizada faz desta última nada mais que um simples
acompanhamento melódico a histórias cujos relatos acabam por expor ao ridículo
seus protagonistas.
Ao isolar uma determinada
manifestação artística a uma classe social Ana Rieper não esconde sua posição
enquanto “outro de classe”, cometendo, desta feita, o equívoco de tratar “seus entrevistados pobres de modo fetichista
[...], sem estabelecer real diálogo”¹.
Dentro deste contexto, a montagem aleatória de entrevistas que pouco somam ou
contribuem ao processo de aprendizado da “essência
de uma temática ou de uma realidade fixa preexistente”² denotam a crise do “sistema”
de entrevista alertada por Jean-Claude Bernardet, para quem o recurso, tal qual
percebido no filme em análise, se tornou um cacoete incapaz de promover o “enriquecimento da dramaturgia e das
estratégias narrativas” ³.
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1-2.Neste
sentido, Cláudia Mesquita e Consuelo Lins in Filmar o
real: sobre
o documentário brasileiro contemporâneo. 2ª ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2011. p.30
e 56.
3. A Entrevista in Cineastas
e Imagens do Povo. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2003.
Ficha Técnica
Direção e Roteiro: Ana Rieper
Produção: Suzana Amado
Fotografia: Manuel João Águas
Trilha Sonora: Aurélio Dias
Estreia: 03.08.2012
Duração: 76 min.
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