Retrospectiva 2019 - Melhores do Ano
2019 foi um
ano bastante peculiar para o cinema pelas seguintes razões:
a) Bacurau, Coringa e Parasita foram os filmes mais aclamados
pela crítica, trabalhos esses que em comum “possuem
personagens que reagem com violência a ataques de uma elite cínica e predatória”¹,
daí porque é possível concluir que os três igualmente discorrem sobre
desigualdade social em maio a corrosão de princípios éticos e morais, o que
explica haver quem conclua que:
“Talvez por estarmos tão profundamente
destituídos de tais princípios, sobretudo em um ano marcado por tantos
eventos desalentadores no Brasil e no mundo, esses três filmes tenham
despertado o pathos de
públicos tão diferentes, mas com a mesma desesperança em comum”².
Dada a importância,
relevância e qualidade dessas obras é natural que ocupem as primeiras
colocações no ranking daquilo que de melhor foi exibido nas salas de cinemas de
Belém ao longo desses doze meses, contexto esse em que um inédito empate na
primeira posição ocorreu neste espaço virtual, dada a impossibilidade de retirar
Bacurau ou Coringa de tal patamar.
b) A menção a Bacurau
faz lembrar o quão incrível foi o ano para o cinema nacional, a despeito da perseguição
infantil e estúpida contra ele exercida pelo governo federal, isso porque além do
referido título ter vencido o grande prêmio do júri em Cannes, ainda no mesmo
festival, como sabido, A Vida Invisível fora eleito o melhor título da Mostra Um
Certo Olhar. E não parou por aí, vide o prêmio de melhor documentário recebido
por Bárbara Paz no Festival Internacional de Cinema de Veneza, na Mostra Venice Classics (que reúne documentários
sobre cinema e/ou cineastas) graças a realização de Babenco – Alguém tem que Ouvir o Coração e Dizer: Parou, bem como,
dentre outros exemplos, a entrega do Prêmio da Anistia Internacional e do
Prêmio da Paz, no Festival de Berlim deste ano, para Espero Tua (Re)Volta.
c) Merece também registro o especial momento vivido
durante esse ano pelo cinema de terror, face importantes lançamentos de tal gênero
como Midsommar, Suspiria, Nós e Clímax, movimento que reforça a tese
daqueles que defendem estar-se testemunhando a fase do pós-terror - nova estética na qual o horror tem
se amparado.
Feito esse
apanhado sobre aquilo que de melhor acontecera no campo cinematográfico em
2019, resta elencar os títulos de maior destaque que chegaram até as telas da
cidade das mangueiras; são eles:
Bacurau atualiza o filão dos
filmes de cangaço para a partir de tal forma tecer críticas ao Brasil atual e
ao futuro perigosamente hiperconservador para o qual caminha.
História de origem do icônico
personagem dos quadrinhos que também pode, sem exagero, ser considerada uma
versão de Taxi Driver para o público
do século XXI.
Parasita fala sobre
desigualdade social com ironia e, o que é melhor, sem cair em armadilhas
maniqueístas seja ao não desenvolver os ricos como se monstros fossem e os
pobres como se anjos fossem, seja ao demonstrar que a relação parasitária entre
as classes ocorre de forma bilateral.
Quentin Tarantino novamente
reescreve a história e o faz menos preocupado com a ação e mais interessado na
elaboração dos personagens enquanto caminho necessário para justificar a
importante e absurda sequência que encerra o filme.
Gaspar
Noé filma de modo visceral uma espécie de descida ao inferno na qual o homem
abandona toda e qualquer noção de sociabilidade e se comporta feito um animal.
O documentário compõe um
painel didático e contundente da recente história nacional, no que se inclui a
discussão de valores políticos, sociais, econômicos, culturais e comportamentais
em tempos de retrocesso e conservadorismo.
Midsommar discorre sobre uma seita e
suas bizarras peculiaridades sem apelar para artifícios argumentativos como bruxaria,
satanismo e afins, valendo-se para tanto apenas de posicionamentos de manada
estimulados por um pretenso viés cultural, circunstância que torna ainda mais
insanos e incômodos os atos praticados pelos personagens.
Pedro Almodóvar faz de maneira fundida sua versão de dois clássicos
de Federico Fellini: 8½ e Amarcord, contando para tal com a
parceria de Antonio Banderas naquela que pode ser considerada a melhor interpretação de sua
carreira.
9. Graças a Deus
Graças a Deus narra o drama de vítimas de
um padre pedófilo, aspecto esse em que não hesita em falar a respeito da Igreja
Católica e suas tentativas de abafar tais escândalos.
Com criatividade e bom humor
o filme reflete sobre assuntos caros para o catolicismo como o embate entre
tradição e progresso que marcou a saída
de Joseph Ratzinger do papado e a assunção do cargo por Jorge Bergoglio.
12. Suspiria
– A Dança do Medo
13. A
Favorita
14. A
Vida Invisível
15. Sem
Data, Sem Assinatura
16. Border
17.
Temporada
18. Cafarnaum
19. O Irlandês
20. Guerra
Fria
Melhor Direção: Todd Phillips (Coringa)
Melhor Ator: Joaquin Phoenix (Coringa)
Melhor
Ator Coadjuvante: Joe Pesci (O Irlandês)
Melhor
Atriz: Florence Pugh (Midsommar)
Melhor
Atriz Coadjuvante: Fernanda Montenegro (A Vida Invisível)
Melhores
Efeitos Especiais: Aladdin
Melhor
Fotografia: Coringa
Melhor
Roteiro Adaptado: Coringa
Melhor
Roteiro Original: Bacurau
Melhor
Montagem: Vice
Melhor
Direção de Arte: A Favorita
Melhor
Figurino: A Favorita
Melhor
Trilha Sonora: Coringa
Melhor
Canção: Dwa Serduszka (Guerra Fria)
Melhor
Animação: Wifi Ralph – Quebrando a Internet
Melhor
Maquiagem: Border
___________
01.
MATTOS, Carlos
Alberto. Onde Coringa
(des)encontra Bacurau. Disponível em https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Cinema/Onde-Coringa-des-encontra-Bacurau/59/45451.
Acesso em 12/12/2019.
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