Harry e Sally - Feitos Um Para o Outro
Reunião de Talentos
Se Woody Allen optasse um dia por dirigir uma comédia romântica despida das altas doses de neurose mostradas em obras como Annie Hall e Manhattan, esse filme seria Harry e Sally – Feitos Um Para o Outro (When Harry Met Sally, EUA, 1988).
As diversas caminhadas pelas ruas de Nova York regadas por deliciosas discussões comportamentais, a insegurança das personagens, as referências culturais e a urgência da declaração final de amor são elementos que se igualam àqueles manejados pelo cineasta nova-iorquino; porém, as semelhanças param por aí, eis que na obra sob análise estes recursos são conduzidos sob a ótica de um outro casal diverso (mas nem tanto) àquele do título do filme, qual seja o diretor Rob Reiner e a roteirista Nora Ephron os quais, lançando mão de suas experiências particulares, puseram nas telas uma história cheia de frescor e charme sobre encontros e desencontros que afastam mas também aproximam as vidas de homens e mulheres.
Trata-se, então, de uma reunião de talentos cujas carreiras, até então, não haviam se solidificado, senão vejamos:
- Em Harry e Sally Rob Reiner revela sua habilidade tanto na condução do elenco quanto no manuseio de recursos técnicos – valendo, neste sentido, destacar a inspirada montagem pontuada por depoimentos que tangenciam o enredo do filme, o que, de forma muito despretensiosa, acabou por criar padrões ao gênero que influenciariam diversas produções posteriores como, por exemplo, o recente (500) Dias Com Ela – numa época em que seu nome ainda não era o sinônimo de sucesso de público e de crítica que viria se tornar a partir desta e de produções posteriores do porte de Louca Obsessão (Misery, EUA) e Questão de Honra (A Few
Good Men, EUA).
- Nora Ephron ainda não havia estreado no ofício da direção cinematográfica, o que após ocorrido geraria uma das mais belas homenagens ao grandes romances do cinema chamada Sintonia de Amor.
- Também antes de passar a ocupar a cadeira de diretor em filmes como A Família Adams e Homens de Preto, Barry Sonnenfeld fora encarregado da fotografia de When Harry Met Sally, ocasião na qual realizou um trabalho capaz de extrair com sofisticação a beleza de cada uma das estações do ano que pontuam os anos de convivência do casal que dá nomeia o filme.
- Na trilha sonora um até então desconhecido Harry Connick Jr. empresta sua voz para a interpretação de antigas baladas americanas, numa colaboração que serviu de pontapé inicial para o restante de sua carreira enquanto cantor e ator.
- Billy Crystal obteve o êxito neste filme de dosar seus conhecidos excessos, compensando-os com tocantes doses de sensibilidade, o que, numa química perfeita, não lhe sobrepôs nem lhe inferiorizou perante Meg Ryan, cuja desenvoltura na defesa de sua primeira protagonista lhe valeu através da famosa tomada do orgasmo encenado o principal e melhor momento de sua filmografia.
Com base na feliz junção desses
talentos, Harry e Sally se firmou, portanto, como um sincero e carinhoso
retrato acerca das diferenças entre os sexos, bem como sobre suas
incontestáveis semelhanças quando o assunto é amor. Receios e inseguranças, no
fim das contas, revelam-se comuns a todos, daí a razão de, após tantas idas e
vindas, ser inevitável torcer pelo final feliz das personagens.
Em tempos de cinismo como os de
hoje, é sempre um bálsamo perceber o sorriso no rosto que o otimismo nos
proporciona. Pena que logo algo surja para, passados alguns minutos, dissipar
essa sensação...
COTAÇÃO
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Ficha Técnica
Direção: Rob Reiner
Roteiro: Nora Ephron
Fotografia: Barry Sonnenfeld
Elenco: Billy Crystal, Meg Ryan, Carrie Fisher,
Bruno Kirby
Duração:
95 minutos
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