Sinédoque Nova York


Transição Nada Traumática


Em meio ao vazio de sua vida pessoal e profissional, diretor de teatro lança mão de patrocínio recebido para realizar seu primeiro trabalho autoral. Decidido a criar uma obra de cunho autobiográfico, o artista promove ensaios de uma peça sobre trechos diários de seu cotidiano, o que, somado a sua dificuldade de percepção temporal, acaba por resultar num infindável exercício de  encenação cujas proporções gigantescas quanto ao número de cenários e de personagens, geram um espetáculo inacabado, mas plenamente hábil a se mesclar e até mesmo tomar o lugar da vida real de seu criador.
Sinédoque Nova York marca a estréia de Charlie Kaufman como diretor de cinema, numa transição nada traumática que se mostra deveras promissora; afinal:
·        seu roteiro – à exemplo de enredos anteriores como os de Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de Uma Mente sem Lembranças – traz o costumeiro experimentalismo permeado de esquisitices que, interessantes ou não, possuem o incontestável mérito de, por conta de seu caráter experimental, se distinguir  das estruturas tradicionais que baseiam quase todo o restante da produção cinematográfica;
·        se por um lado o agora cineasta Charlie Kaufman – talvez por reconhecer sua inexperiência neste sentido – não precisou ter grandes preocupações com a condução do elenco, dado o uso de seu prestígio para a reunião de um invejável rol de atores – no qual se incluem Philip Seymour Hoffman, Samantha Morton, Catherine Kenner, Emily Watson, Diane Wiest, Jennifer Jason Leigh e Michele Williams – por outro lado restou inconteste sua habilidade e apuro técnico no que tange a retratação visual de suas palavras.
Outrossim, tal como a peça teatral do filme se tornou mais importante que a própria vida de seu criador, é preciso de igual forma enfocar Sinédoque Nova York como um elemento maior do que a mera estréia profissional de seu diretor e, neste diapasão, a obra em comento se revela como um exercício de análise minucioso e cadenciado acerca das mentes de seus personagens, resultando, desse modo, num perspicaz instrumento de observação sobre a capacidade humana de visualizar, distinguir as razões da mediocridade e da mesquinharia que por vezes permeiam seus universos particulares, bem como sobre sua simultânea inabilidade e inércia para a tomada de atitudes que lhe retirem da letargia.
Um filme cujo caráter experimental se revela curioso tanto isolada quanto comparativamente as demais manifestações artísticas de seu genitor.

COTAÇÃO: ۞۞۞


Ficha Técnica

Título Original: Synecdoche, New York
Direção e Roteiro: Charlie Kaufman
Elenco: Philip Seymour Hoffman (Caden Cotard)Catherine Keener (Adele Lack)Samantha Morton (Hazel)Emily Watson (Tammy)Tom Noonan (Sammy Barnathan)Hope Davis (Madeleine Gravis)Jennifer Jason Leigh (Maria)Dianne Wiest (Ellen Bascomb/Millicent Weems)Deirdre O'Connell (Mrs. Bascomb)Michelle Williams (Claire Keen)Sadie Goldstein (Olive)
Estreia: 17 de Abril de 2009
Duração: 124 minutos

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