Lady Vingança

Forma e Conteúdo

                   O equilíbrio entre forma e conteúdo ou a prejudicial prevalência da primeira sobre o segundo são temas frequentemente abordados pela crítica cinematográfica. Neste diapasão, Lady Vingança (Park Chan-Wook, 2005) – produção que encerra a trilogia da vingança, iniciada por Mr. Vingança e seguida de OLDBOY – sintetiza e até mesmo tripudia de toda essa discussão; afinal, ao longo dos primeiros sessenta minutos da obra, o diretor  Chan-Wook deliberadamente opta pela exploração e experimentação da forma.
                Desta feita, com base em uma esperta montagem de imagens sobrepostas, o filme transita com facilidade entre o presente e o passado de sua protagonista - interpretada com sutileza ímpar por Lee Yeong-Ae - lançando mão de uma fotografia precisamente elaborada para ressaltar o trabalho de direção de arte, o que faz saltar aos olhos cenários e figurinos de cores fortes e vibrantes que contrastam propositalmente com o tom sombrio da história.
                Nesta superação da forma sobre o conteúdo durante a primeira metade do filme, a violência de determinadas cenas acaba se mostrando um tanto quanto contida, o que inevitavelmente desperta estranheza a quem é familiarizado com trabalhos anteriores de Chan-Wook. Todavia, a partir da segunda metdade da obra, o diretor coreano vira completamente o jogo e revela o quanto tudo sempre esteve sob seu controle, isso porque, através de uma explosão de violência, são levantadas profundas discussões éticas capazes de conferir à obra o devido certificado de qualidade garantidor de sua inserção -e classificação como capítulo final - na mencionada trilogia.
                Park Chan-Wook, neste contexto, adota a velha estratégia de Rocky Balboa, permitindo, assim, que o adversário lhe atinja durante quase toda a luta para no último assalto iniciar a grande reação que surpreende seu já cansado oponente. Consciente e inteligentemente o cineasta exercita seus experimentalismos, mas não esquece o conteúdo da obra, até porque, não fosse o bastante o soco no estômago causado pela violência que eclode na segunda metade do filme, ainda sobra espaço para, próximo ao término, realizar-se um salto poético no qual imagens metafóricas transmitem a redenção, mergulhada em arrependimentos, experimentada pela personagem principal após a concretização de sua tão almejada vingança, ocasião em que o valor da vida se revela na percepção dos mais simples elementos que rodeiam o homem, mas que acabam esquecidos no dia-a-dia.
                 Sem dúvida são poucos os cineastas que conseguem manejar com êxito elementos tão díspares. Como é bom ser surpreendido por Rocky Balboa!

COTAÇÃO: ****

Ficha Técnica
Título Original: Chinjeolhan Geumjasshi (Coréia do Sul, 2005)
Direção: Chan-wook Park
Roteiro: Chan-wook Park, Seo-Gyeong Jeong
Produção: Cho Young-Wuk, Lee Chun-Yeong e Lee Tae-Hun
Música: Choi Seung-Hyeon, Jo Yeong-Wook e Na Seok-Joo
Fotografia: Jeong Jeong-Hun
Direção de arte: Choi Hyeon-Seok e Han Ji-Hyeong
Figurino: Jo Sang-Gyeong
Edição: Kim Jae-Beom e Kim Sang-Beom
Elenco: Tony (I) Barry (StepFather, Australian)Su-hee Go (Ma-nyeo)Hye-jeong Kang (Tv announcer)Bu-seon Kim (So-young Woo)Yea-young Kwon (Jenny)Seung-Shin Lee (Yi-jeong Park)Yeong-ae Lee (Geum-ja Lee), Mi-ran Ra (Oh, Su-hee)Yeong-ju (II) Seo (Kim, Yang-hee), Anne Cordiner (StepMother, Australian)Min-sik Choi (Mr. Baek)Byeong-ok Kim (Preacher)Shi-hoo Kim (Geun-shik)Dae-yeon Lee (Prison head)Dal-su Oh (Mr. Chang)Il-woo Nam (Detective Choi)Kwang-rok Oh (Se-hyun's Father)
Duração: 112 minutos

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